A mais recente versão do Encontro Estadual Espírita do Interior do Paraná aconteceu em Cascavel, no Anfiteatro da Reitoria da Faculdade Assis Gurgacz, como realização, desta feita, da 10ª União Regional Espírita – URE, através de sua Presidente Maria Lucia Silveira e Equipe e sob a coordenação do experiente médium e orador espírita J. Raul Teixeira.
Para a Conferência de Abertura, no dia 14 de setembro, às 20h30, o público compareceu de forma maciça, lotando as dependências do Anfiteatro, estimando-se mais de 1.000 pessoas. Alguns, mesmo com a lotação, resolveram ficar, em pé, enquanto outros optaram por desistir da participação.
Compuseram a mesa diretora, com a Presidente da 10ª URE, o ilustre convidado Raul Teixeira, a Presidente da Federação Espírita do Paraná – FEP, Maria Helena Marcon; o 1º Vice-Presidente, Francisco Ferraz Batista e o Represen-tante do Movimento Espírita Paraguaio, Milciades Lezcano. Autoridades civis atenderam ao convite, destacando-se a presença do Prefeito da Municipalidade, Dr. Lizias de Araújo Tomé.
A fala de Raul não poderia ser mais oportuna: Expiações coletivas na visão espírita. Servindo-se das indagações do Codificador Allan Kardec (Obras Póstumas, pt. 1 – Questões e problemas – As expiações coletivas) aos Espíritos e da resposta a ele dada pelo Espírito Clélia Duplantier, fez judiciosa análise a respeito das expiações individuais e das expiações coletivas.
“Três caracteres há em todo homem: o do indivíduo, do ser em si mesmo; o de membro da família e, finalmente, o de cidadão.”
“As virtudes da vida privada diferem das da vida pública. Um, que é excelente cidadão, pode ser péssimo pai de família; outro, que é bom pai de família, probo e honesto em seus negócios, pode ser mau cidadão, ter soprado o fogo da discórdia, oprimido o fraco, manchado as mãos em crimes de lesa-sociedade. Essas faltas coletivas é que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas concorreram, os quais se encontram de novo reunidos, para sofrerem juntos a pena de talião, ou para terem ensejo de reparar o mal que praticaram, demonstrando devotamento à causa pública, socorrendo e assistindo aqueles a quem outrora maltrataram.”
A partir daí, Raul recordou das tsunamis de 2004, que atingiram 3 continentes, dos incêndios dos Edifício Andraus (1972) e Joelma (1999), em São Paulo, reportando-se ainda ao incêndio do circo em Niterói em 1961 e a mais recente tragédia do vôo 3054, com o Airbus da Tam, em São Paulo (17/07/2007), estabelecendo pontes com as atrocidades cometidas por cruzados europeus e autoridades romanas e os conseqüentes resgates.
No dia seguinte, 15 de setembro, o Anfiteatro teve sua lotação de 900 lugares totalmente ocupada, e Raul iniciou o Seminário dentro do temário proposto O Espiritismo e o Movimento Espírita contemporâneo, com desdobramentos sobre:
a – Relações do Espiritismo com o Espiritualismo: contatos e distinções
Raul evocou o versículo primeiro do capítulo I do primeiro livro bíblico, Gênesis (“...as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas”) para discorrer a respeito do permanente convite do mundo espiritual aos encarnados, da interferência dos Espíritos na vida humana.
Do mais de um milhar de divindades de deuses indianos, aos deuses humanos, animais e híbridos do Egito, os orixás africanos, os deuses gregos do Olimpo, os deuses romanos dos Campos Elíseos à defesa do Deus único pelo profeta Elias ante os sacerdotes de Baal, conforme o Livro Terceiro dos Reis, Raul explicou a afirmativa do Cristo de que “desde os dias de João Batista até agora, o reino dos céus sofre violência, e os violentos arrebatam-no.” – Mt, 11:12.
Comparou o Espiritualismo a uma Universidade com os mais diversos cursos, sendo o Espiritismo um desses. Curso que propõe a fé inabalável, “a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.”
b – Migrações no Movimento Espírita: indisfarçáveis influências
Longa foi a relação das concepções anteriores dos que migram para a Doutrina Espírita, egressos de outras crenças, e que não as revisam. Antes, as vão introduzindo no Espiritismo, tais como a substituição da crença no demônio, agora transferida para entidade obsessiva; o uso de termos não espíritas como desencarne, reencarne, quando o Codificador criou palavras específicas para a nova ciência.
Recordou as interferêncais interpretativas e posturais desses migrantes, da responsabilidade dos dirigentes a quem cabe dizer o que é certo, o que é Doutrina Espírita e o que nada tem a ver com ela.
Apropriadamente, lembrou dos mártires cristãos que preferiam morrer a afirmar uma simples frase que fosse de negação ao Cristo e à Verdade. Narrou, entre outras, a história de fidelidade a Jesus do escravo Rufus, descrita na obra de psicografia de Francisco Cândido Xavier/Emmanuel, Ave, Cristo!
E salientou, em diversas vezes, que “O Centro Espírita é o educandário básico da alma popular”, conforme assertiva do nobre Bezerra de Menezes.
c – Escolha de dirigentes ou coordenadores para o Movimento Espírita: ação das culturas e das idiossincrasias
Neste item, Raul trabalhou o papel das lideranças, enfocando o líder como esse alguém de mente ativa, que precisa ter o poder de convencimento.
Viajou pela História, apontando líderes políticos, religiosos, estadistas, bons e maus, como Abraham Lincoln, o grande gerente do processo democrático americano; Tamerlão, Francisco de Assis, Jim Jones.
Frisou do prejuízo das omissões, pois o omisso deseja estar bem com todo mundo e recordou do papel do verdadeiro dirigente, evocando Kardec, Paulo de Tarso, Lucas, dizendo da responsabilidade de ser espírita, da lucidez que os dirigentes devem ter para se posicionar devida e acertadamente, do equilíbrio para se definir.
Entre outras, citou as orientações do Espírito de Verdade a Kardec, em junho de 1856, servindo como médium Aline C.:
“Não suponhas que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros, para em seguida ficares tranqüilamente em casa. Tens que expor a tua pessoa.”
E Saulo de Tarso, no caminho de Damasco, ante a visão do Cristo que o interroga:
“Senhor, que queres que eu faça?”
Também o Apóstolo Lucas, colhendo as palavras do Cristo: “Dá conta de tua administração.”(Lc, 16:2)
E, adiante: “E, se teu irmão pecar contra ti, vai, e corrige-o entre ti e ele só. Se te ouvir, ganhaste o teu irmão. Se, porém, te não ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que pela boca de duas ou três testemunhas se decida toda a questão. E, se os não ouvir, dize-o à Igreja.” (Mt, 18:17)
Disse Raul que nosso dever como religiosos é trabalhar a alma. É pensar e agir no bem, desde que “No cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram.” (O Espírito de Verdade, O evangelho segundo o espiritismo, cap. VI, item 5).
Detalhando, assinalou o perfil indis-pensável ao dirigente espírita: conhecimento espírita, comprometimento, dignidade pessoal.
Alguém que vibre e goste do que está fazendo, pois que o Espiritismo merece a nossa elegância moral.
Reportou-se, por fim, a Bezerra de Menezes que, no dia 16 de agosto de 1886, nos Salões da Guarda Velha, no Rio de Janeiro, perante 2000 pessoas, fez sua Confissão de fé espírita, o que lhe valeu a perda de centenas de clientes.
Em todos os intervalos, antes e depois das atividades, Raul se postou à disposição do público, para os cumprimentos, os abraços, os autógrafos, especialmente em suas duas obras lançadas em Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, ao ensejo da Conferência Estadual Espírita, em março passado: Aprenda a falar com seu anjo, do Espírito Levy e Em nome de Deus, do Espírito José Lopes Neto.
No domingo, 16, pela manhã, com ainda grande afluxo de participantes, Raul abordou o Preparo de futuros lidadores espíritas.
A ênfase foi direcionada à juventude, à atenção que deve merecer dos líderes das Casas Espíritas, corrigindo a afirmativa de que “O jovem é o futuro”, desde que ele é o presente e deve ser atuante desde agora.
Reportando-se às origens do Espiritismo na França, lembrou de que Gabriel Delanne conheceu a Doutrina Espírita desde a infância e se tornou trabalhador com larga folha de serviços. Recordou Léon Denis e seu contato com o Espiritismo aos 18 anos, tornando-se trabalhador com 63 anos dedicados ao Espiritismo, e o jovem Camille Flammarion que conheceu Allan Kardec, no dia mesmo do lançamento de O livro dos espíritos, 18 de abril de 1857.
Incentivou ao não abandono da infância, do abençoado trabalho da Evangelização das crianças e dos jovens, no intuito de os transformar em homens e mulheres de bem.
Rememorou os jovens heróis do Cristianismo nascente, os jovens atraídos por Jesus para a Boa Nova, como João Evangelista em seus 14 anos, Tiago Menor, Filipe.
E, porque o Centro Espírita não é extensão da rua, nem do clube, mas “o educandário da mente popular”, disse da importância de se indicar ao jovem o que é correto na forma de falar, de se vestir, de se portar.
Falou da sua experiência com a mente jovem, em especial com respeito à Sociedade Espírita Fraternidade, fundada há 27 anos, em Niterói, por ele, jovem e outros tantos jovens. Jovens que ainda hoje, 27 anos passados, prosseguem a ser os trabalhadores daquela Casa Espírita.
Porque, segundo o Espírito Maria Dolores, “o engano pede luz onde a verdade mora”, frisou da necessidade de haver comunicação entre os mais maduros e os jovens, futuros lidadores espíritas e que devem ser direcionados às tarefas do passe, da exposição espírita, e todas as demais do Centro Espírita, para a continuidade salutar do movimento.
Por fim, disse da grande responsabilidade dos brasileiros, por vivermos em um país, Coração do Mundo, Pátria da Fraternidade, com uma grande quantidade de recursos (jornais, revistas, programas de rádio e televisão, feiras de livros, teatros, músicas espíritas e eventos espíritas de qualidade).
O Encontro finalizou, entre muita emoção, como se muitos percebessem a presença dos Espíritos benfeitores presentes ao importante evento.
Embora noticiado que, ao finalizar-se a cerimônia de encerramento, Raul deveria se deslocar de imediato a outra cidade, a fim de tomar o avião, muitos ainda se mantiveram nos corredores do Anfiteatro para, à sua passagem, dizerem um novo até logo, até breve, até de repente.
De parabéns a URE anfitriã, com toda sua Equipe, pela organização, pela atenção aos detalhes, pelo carinho em receber a todos os participantes, nos vários momentos.
De parabéns todas as UREs que se esmeraram em se fazer representar, quer por seus Dirigentes, quer por trabalhadores das várias Casas Espíritas.
A TVCEI transmitiu no sábado e domingo as atividades na íntegra, contabilizando-se 1.711 visitas no sábado e 2.157, no domingo, num total de 33 países.
Países que conectaram a TVCEI durante os eventos:
Alemanha
Argentina
Bélgica
Brasil
Canadá
Chile
Colômbia
Espanha
Estados Unidos
Finlândia
França
Guiana Francesa
Holanda
Honduras
Irlanda
Israel
Itália
Japão
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Paraguai
Peru
Porto Rico
Portugal
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Reino Unido
Romênia
Suécia
Suiça
Turquia
Uruguai
Venezuela
Fonte: Jornal Mundo Espírita - Outubro/2007