Palestra de Inauguração da Sociedade Espírita Meimei - Campo Mourão - 1988 - parte II
Ele sentiu que a sua modificação se fizera a partir da visão que ele teve do modo como viviam seus empregados. Transformação moral.
Encontramos outro gênero de transformação moral que é aquele que se deu com Mohandas Gandhi. Gandhi sofreu um processo de transformação moral porque ele foi sensibilizado, a partir do momento em que viu os indianos sendo postos para fora do trem, a porretadas, empurrados pelos cobradores sulafricanos, se esborrachando lá embaixo, por causa do preconceito. Aquilo o comoveu.
Quando ele chegou na Índia era a escravidão, mesmo. A Inglaterra dominava a Índia. Aquilo não podia fazer-lhe bem à alma. Ele resolveu mudar aquele povo e, foi à luta pelo povo. Mudou seus hábitos de vida. Retirou o paletó e gravata europeus (ele usava a marca do sul da Inglaterra, quando lá esteve), para usar o sari. A partir daí a vida de Gandhi é tudo isso que a gente sabe, o que nunca foi e a gente nem sonha saber. Mas, o fato é que a transformação, que se lhe operou, foi uma transformação de ordem moral.
Muitos de nós sofremos transformações morais, em mínimas coisas. Vamos mudando, diariamente, a nossa maneira de ser, de ver ou tratar as pessoas a partir de lances que nós já observamos, já sentimos. Aquilo já me marcou. A gente muda. Transformações morais que vão se dando gradativamente.
Allan Kardec perguntou aos Espíritos (lá pela questão 780 de O Livro dos Espíritos), sobre o que se desenvolve primeiro no indivíduo: se o progresso moral ou se o intelectual. Os Espíritos responderam que a moral não marcha par e par com o intelectual, mas sim, que o intelectual vem antes. Por quê? Por que o progresso intelectual vem antes do progresso moral? Quando nós lemos em O Livro dos Espíritos o que é moral; quando Kardec pergunta que definição se pode dar de moral, os Espíritos dizem o quê? O que é moral? É a regra de bem proceder. Essa é a definição de moral de O Livro dos Espíritos.
Mas, como é que o indivíduo vai saber se ele está procedendo bem ou mal, sem saber, de ideia. O discernimento é uma virtude intelectual. O indivíduo só pode escolher o Norte ou Sul, quando ele conhece se há Norte e se há Sul. Sem que se saiba o que é verde, o que é vermelho, não se sabe escolher. Logo, esse senso de escolha, esse senso de distinguir é pertinente ao intelecto.
Somente a partir do momento em que o indivíduo sabe, ele tem condição de escolher a regra de bem proceder ou a regra de mal proceder; a moral ou a não moral; o que é moral ou o que é imoral. Aqui, vale a pena que nós lembremos a distinção entre o que é moral, o que é amoral e o que é imoral. Essas três coisas existem.
O indivíduo será ou está na faixa amoral em que situação? Quando é que o indivíduo será amoral? O amoral é o indivíduo que não conhece os códigos de moral. O índio que come o homem branco; tira o miolo para adquirir a força do homem branco, está fazendo aquilo dentro de um princípio amoral. Como ele mata o bicho no mato para comer, o homem branco é outro bicho, para ele.
Nós, quando matamos o bicho, também temos essas ideias que o índio tinha. Vamos comer miolo que é bom; miolo de peixe é bom pra memória; come fígado que é bom para não sei o quê. Comemos as partes dos animais que são boas para determinados efeitos. Os índios comiam miolo de homem branco, achando que iam ficar bonitos ou inteligentes como o homem branco. Eles estão agindo numa faixa amoral.
Os homens primitivos estão numa faixa amoral. Eles não conhecem os códigos morais. O indivíduo, quando conhece os códigos morais e os vive, age de acordo com eles – ele é o indivíduo moral ou moralizado; ele conhece e vive os códigos morais.
Quando é que ele é imoral? Quando conhece e não vive os códigos morais. Aí estão as distinções. Embora –i (imoral) também queira dizer não; imoral vem do latim immoralis; imoral quer dizer não, também. Só que esse –a (amoral) é do grego; esse –i (imoral) é do latim. Quando se aplica isso (amoral) quer dizer que não conhece o código; quando aplica isso (imoral) conhece, mas não vive.
Daí, minha gente, nós vemos que o intelecto se desenvolve, primeiro, nos Espíritos. Quando o princípio espiritual começa o seu projeto evolutivo, estágio evolutivo, nos mundos materiais, começa vinculado ao ato cognitivo, como nos lembra O Livro dos Espíritos. Aí, nesse ato cognitivo, nessa expressão mais da matéria, o princípio espiritual vai desenvolvendo as suas potencialidades de aglutinar, de agregar. No átomo, temos o poder de aglutinação que ele tem, através de seu núcleo, e de atração pelas partículas eletrônicas que ficam presas a sua volta. O princípio espiritual, estagiando nessa faixa, vai desenvolvendo a capacidade intelectual. No reino vegetal, no reino animal, o princípio inteligente que, neles estagia, vai desenvolvendo o intelecto.
No reino vegetal, as plantas têm que aprender a espalhar as suas raízes para tirar a água do solo; têm que aprender a se apropriar da luz do sol para produzir, em si mesma, a clorofila; têm que desenvolver a si própria e os próprios alimentos. No reino animal, o princípio espiritual que ali estagia tem que aprender a caçar, tem que aprender a comer certas ervas e a distinguir aquelas que são venenosas daquelas que não são.
Veja o psiquismo se desenvolvendo, o intelecto se desenvolvendo. Aprender a se defender de outros animais – intelectual. Aprender a se defender, a tal ponto, que usa a própria coloração para se acomodar ao ambiente onde ele está. Surgindo, a partir daí, o mimetismo. O animal fica da cor das folhas, da cor da pedra, da cor da água - isso é desenvolvimento intelectual – ou se esconde atrás de postes, sem precisar mudar de cor, se esconde atrás das paredes. Mas, na selva, como é que o animal vai se esconder, atrás da árvore, sem que o outro veja? Então, ele se forja da cor do ambiente e o outro passa direto.
Vejamos como o princípio espiritual vai desenvolvendo o intelecto, ao longo da sua evolução. Quando chegamos na faixa humana, apenas aprimoramos isso porque somos dotados, agora, do raciocínio, o pensamento contínuo que o animal não tem. O animal tem o pensamento fragmentado.
Daí, o intelecto se desenvolvendo primeiro. A nossa criança (que já é um Espírito velho, na experiência reencarnatória), desde pequenina, ela vai mexer na jarra com a caneta, mas antes de levar a mão, olha para um lado, olha para outro, não vê ninguém, ela mexe; se chegou alguém, ela tira a mãozinha. Onde é que está isso? Na sua bagagem. Se a mãe diz Não, aí não mexe! Brinca com aquilo lá. A criança aprende logo, fixa logo porque aquilo é uma experiência antiga dela.
É importante que a gente não encha a cabeça, da criança, só de Não. Ao invés de não, não, não! - Venha cá, saia daí; vem brincar no quarto; vá brincar ali. Não mexe ali, mexa naquilo. Eu dou uma negativa e uma afirmativa para saber onde é o seu domínio. Senão, eu apenas nego os domínios todos, mas não digo onde é que ela pode. Nego um e abro outro.
Não, deixa a canetinha do papai aí; venha com o lápis brincar com o papel aqui. Lá é o domínio. Então, a gente vai mostrando à criança a possibilidade dela escolher, discernir, distinguir uma coisa da outra, o bom do mal, o certo do errado. Não apenas mostrando o errado, mas dando a ela o que é certo; não apenas mostrando o mal, mas mostrando também o que é bom para que ela tenha os referenciais sem obstáculo.
A partir disso, eu posso escolher o que é bem, o que é mal porque eu já sei, já fui ensinado. Com isso, nós ficamos percebendo que todos esses gêneros de transformações são importantes que a gente saiba, se dê conta deles porque nós poderemos passar por diversos deles ou por todos eles, na nossa vida ou podemos ficar numa faixa de um deles apenas.
Digamos que nos achamos na faixa da transformação moral; outro se acha na faixa da transformação intelectual, mesclado com a transformação moral. Ou, porque se está na Doutrina Espírita, se está lendo as coisas, procurando ajustar a sua vida ao que lê e aprende na literatura espírita – está se sofrendo uma transformação intelectual.
Mas, como nos sensibilizamos com a dor alheia, com os problemas alheios e começamos a ajudar e servir e trabalhar – também estamos sofrendo uma transformação moral.
Mas, os estudiosos desse assunto deixam um último tipo de transformação para analisar. Pela sua peculiaridade, eles dizem que essa transformação é mais do que uma transformação porque ela não depende de nenhum fator externo; essa quinta transformação, os estudiosos chamam-na conversão, mas não uma conversão qualquer; eles dizem que o maior gênero de transformação, que já se viu, é a conversão cristã.
Esse é o gênero de transformação que não tem como o sujeito escapar da modificação. Afirmam: a conversão cristã ocorre de dentro para fora. Ela se assemelha a uma claridade, a uma luz, a uma lâmpada que se acenda dentro do indivíduo, que faça claridade de dentro para fora. O indivíduo se ilumina por dentro e essa iluminação sai dele. Não tem nada mais que o detenha. Ele já não tem condição de retornar ao ponto de origem. Quando ele se converte, ele não muda nunca. Dali é só para frente.
O indivíduo que sofreu uma transformação moral pode mudar. Aquele que começou a dar roupas àquele que estava nu, se ele sofre uma decepção: Eu vou parar de fazer isso; ninguém me agradece; ninguém reconhece e nunca mais faz. Pode voltar atrás.
Eu fico dando comida a essa gente; ninguém me reconhece; ninguém é grato; vou parar com isso; vou tratar dos meus. Pode voltar.
Mas, na conversão cristã não há como voltar. O indivíduo sofre de dentro para fora essa mutação. Aí, os estudiosos conotam uma conversão cristã instantânea, aquela que ocorreu, por exemplo, com Paulo de Tarso. Quando estava a cavalo, indo para Damasco, ele é o grande perseguidor dos cristãos. Naquele momento da estrada, como dizem os Atos dos Apóstolos, ele viu a claridade, viu o Mestre, caiu da montaria, levantou-se do chão ouvindo a voz do Senhor.
Ele já pergunta: -Senhor, que queres que eu faça? Num segundo atrás, ele era o algoz, ele ia perseguir; no segundo imediato ele já era o discípulo, ele já era o súdito: -Senhor, que queres que eu faça?
Conversão instantânea. Aquela figura do Cristo mexeu-lhe dentro. E o Mestre lhe disse: - Tu, Paulo, o vaso escolhido. Até quando recalcitrarás? Até quando? Até quando fugirás de mim?
O Mestre chega no poço de Jacó, pede água e trava-se aquele diálogo – Mulher, dá-me de beber.
Ela o olha, identifica seus traços, reconhece que era judeu e pergunta: - Como tu, sendo judeu, pedes água a mim que sou mulher samaritana?(Embora os samaritanos também fossem judeus, mas já haviam brigado há algum tempo atrás, por questões de culto). Os judeus cultuavam a Deus, a Jeová, no templo de Jerusalém e os samaritanos nas montanhas do gafanhoto ou montanha Garizim ou Jebel.
Lá, tem um momento em que Jesus Cristo lhe disse: - Se tu soubesses quem é aquele que te pede de beber, tu serias quem me pedirias e da água, que eu te desse, nunca mais tu sofrerias sede.
-Mas, tu falas, Senhor, como se fosses um profeta! E o diálogo prossegue e Ele diz: -Mulher, chama teu marido. Ela redarguiu: - Senhor, eu não tenho marido. – Disseste-o bem porque o sétimo que tens também não é teu. – Como tu sabes, Senhor? Tu és de fato Mestre!
Ela corre, chama o marido, chama a vizinhança e se converte a Ele, aos Seus ensinos.
A partir dali, diz a tradição, ela se transformou na maior pregadora do Evangelho, na região de Sicar, na Samaria. Então, nós vemos a conversão instantânea. Ela não esperou os dias passarem.
– Eu vou pensar no que você está me dizendo; eu vou ler alguma coisa, depois eu volto para lhe responder; eu vou conversar com os meus amigos, depois eu volto para lhe dar uma resposta. Daquele diálogo ela se modificou, completamente.
Encontramos outra conversão instantânea em Maria de Magdala, que buscava o amor e só encontrava quem lhe desse sexo. Mas havia o amor. Ela buscava, sem dúvida, alguma coisa de dentro, que a relação corporal não lhe ensejava. Até que ela se deparou com Jesus; os olhares se tocam e ela se converte ali.
Diz o Evangelho que ela derrama seu vaso de alabastro, um vaso de substância muito alva (alabastro) de perfume sobre os pés d’Ele e enxuga com os próprios cabelos, emocionada. E pede a Ele que a ajudasse a sair do tormento em busca do amor. Ele determina que ela se transforme na mãe dos sofredores, na mãe dos doentes, na mãe dos aflitos.
Ao sair, ela começa a desfazer todo o seu palácio de riquezas, de joias, de perfumes, tapeçarias para seguir Jesus. Vai, ao final, ao Vale dos Imundos porque os leprosos vêm correndo à cidade para ver o Messias, depois que souberam que Ele subiu a montanha, onde Ele curara dez leprosos, e vem aquele magote batendo o sinete. Ela os encontra e lhes dá a notícia de que o Mestre já morrera. Diante da tristeza, que tomou conta daquele povo leproso, ela se ofereceu para ir falar de Jesus a eles, no lugar onde eles viviam porque na cidade eles não poderiam ficar. Vai com eles, tudo porque sofrera uma conversão instantânea. Aquela conversa com Jesus e não precisou mais nada.
Há a conversão que não é instantânea, a conversão gradativa ou lenta. Aquela, por exemplo, que se deu com Pedro, o Apóstolo. Pedro, de fato, se converteu na pedra da igreja do Cristo, mas só depois da Sua morte. Só quando ele sentiu, em si, o peso da responsabilidade. Até antes, ele negou três vezes. Ele amava o Cristo, mas aquela ideia de Reino dos Céus; aquela ideia de sofrer na Terra; de enfrentar as lutas; ainda estava um pouco confusa na mentalidade do discípulo.
Como nós encontramos muita gente espírita, acredita em Espírito. Mas, esse negócio de mudar a vida; renunciar a isso, a aquilo; também não precisa mudar tanto.
A gente fica nessa nebulosidade. Aceita, mas também não é tanto. Alguns chegam a dizer – Eu sou espírita ortodoxo. - Eu sou espírita, mas não sou fanático. Ele chama fanatismo ao que anda ao fio da navalha.
Começamos a perceber essas conversões. É conversão cristã, mas é lenta é gradativa. Quantos vamos nos encontrar como o próprio Tomé que só mudou mesmo, depois que tocou na chaga de Jesus, depois da Cruz.
Ele ouvia falar de ressurreição, ele ouviu o Mestre dizer que voltaria; que se o templo fosse derrubado, em três dias, Ele o colocaria de pé, fazendo alusão ao templo do Espírito (como Paulo dizia, o corpo). No entanto, só depois da crucificação é que Tomé entende. Conversão cristã lenta.
Nós vivemos essa faixa de conversão cristã lenta. Estamos no meio dos nossos problemas, no meio das nossas dúvidas:
- Mas, será que é tanto assim? - Tem que ser assim? - Tem que abrir mão de tanta coisa! - Mas, eu vou deixar, exatamente agora, que eu estou ganhando, que eu estou lucrando, que eu estou ...- Será que precisa?
A dúvida é esse escorredor ou roedor de nossa vida – há dúvida quando não é estribada no discernimento.
Nós vemos, meus amigos, até onde chega essa conversão cristã. Chega ao ponto que se instala: aquele Pedro que negou, deu a vida por Jesus; aquele Paulo que perseguiu deu a vida, morreu por amor à causa, depois de trabalhar a vida inteira.
Poderíamos enumerar, ao largo da Humanidade, quantos que sofreram essa conversão cristã e, quantos que estão sofrendo essa conversão cristã. Por isso, a nossa preocupação, enquanto espíritas, começa com a tão famosa reforma íntima. Em verdade, é porque nós estamos passando por essas transformações e precisamos chegar aqui. De fato, engrenamos na reforma íntima quando a nossa transformação já não é, meramente, intelectual; já não é tão somente moral; mas passa a ser moral cristã, de vivência.
Não é por outra razão que em O Livro dos Espíritos, na questão 685, item a, Allan Kardec, ao falar da educação, se refere dizendo o seguinte: Não digo educação intelectual, mas sim, uma educação moral. Não uma educação moral baseada em livros, ou seja, teórica, mas sim, aquela baseada em efeitos. A educação que é capaz de mudar hábitos, porque educação é mudar caracteres. Educar é mudar caracteres, é mudar hábitos. Só há mudança de hábito quando nós passamos a incorporar, em nós, o sentido daquilo que estamos aprendendo, em essência.
Nós encontramos, na história do Evangelho nascente, uma multidão de indivíduos que desceram às arenas para morrer por Jesus, sem nunca terem-nO conhecido, pessoalmente. Mas, aquela mensagem era de tal grandeza, era de tal magnitude que o indivíduo se convertia ao ver o que os discípulos estavam fazendo e, davam a vida. Ninguém questionava quem era esse Jesus (Não importava quem Ele foi). O que importava é o que Ele ensinou. O que Ele deixou era tão marcante que valia a pena dar a vida por Ele.
Quantos morreram, nas arenas, na empolgação daquela conversão que se deu instantânea ou gradativa. Aqueles que foram crendo um pouco hoje, crendo um pouco mais amanhã, trabalhando um pouco mais depois de amanhã até que entregassem a vida inteira por amor do Mestre.
Nós temos visto, muita gente, entre nós espíritas, interessada em convencer os outros de que o Espiritismo é a melhor coisa. Há pessoas que leem uma mensagem e dizem assim: - Essa mensagem está ótima para a comadre; essa mensagem está boa para meu irmão; está ótima para minha mulher; está excelente para meu marido, ele é que tem que ler isso!
E eu? Então, nós estamos trabalhando para convencer os outros, mas existe o álibi espiritual. O Espiritismo não precisa de convencidos. Fazendo uma blague com o termo, o Espiritismo não precisa de convencidos porque o convencido é o vaidoso. O Espiritismo precisa de convertidos.
Nós não temos que estar preocupados em convencer a ninguém; estaremos ocupados em nos converter. A causa isso é que vale. O que temos que fazer? (Pergunta muita gente). Dar uma olhada para dentro, com seriedade. Vamos ver as áreas nossas que estão se cobrindo, que estão levadas, que estão com problemas; as áreas que me causam mais dor moral e começaremos a trabalhar ali, devagarzinho.
Tinha a língua muito solta; vou começar a falar menos; tinha um problema de irritação. Vou esperar cinco minutos para acalmar os ânimos. Quando alguém quiser falar de um amigo meu, se ele começar assim eu vou para a janela, assovio, cantarolo, vou tomar água gelada (bastante), vou andar na rua para que eu vá me educando.
Quantas vezes a gente diz - Ah, eu não tenho sangue de barata! Falou comigo, vai escutar! Não se renova nunca. – Eu não levo desaforo pra casa! Vai levar pra onde?
Temos que começar a mudar a ótica da nossa vida. Eu dou um boi pra não entrar na briga e uma boiada pra não sair. É bobice! É tolice! Então, a gente vai dar um bife para não entrar na briga e uma boiada para continuar fora dela! E, para não gastar boa carne, um bife de Chernobyl.
É importante que a gente vá se dando conta que ser cristão, no mundo de hoje, é o maior desafio para nossa vida porque, para onde a gente vai, encontra tudo oposto ao que a gente aprende. A gente tem que viver o que aprende.
Chico Xavier chega a dizer que se nós conseguirmos viver o Espiritismo, em uma grande cidade - na época dele grande cidade porque, hoje, em toda a parte - vivendo como manda o figurino, fizemos duas encarnações em uma. Tamanha é a dificuldade que nós vivemos. Duas existências em uma!
As pessoas nos tratam bem por educação, mas elas não sintonizam com o nosso Espiritismo. Elas nos tratam bem por interesse, mas não enganam. Elas nos tratam bem porque a educação social determina, mas mantêm o preconceito contra nós. E, nós temos que saber de tudo isso. Vivermos com os seres e tratarmos muito bem. Basta fazer a nossa parte. – Sim, sim; não, não. O que é certo é certo; o que é errado é errado. Não vou aproveitar o errado. Venha de onde vier.
Mas, às vezes, se tem que ter o cuidado de abordar o erro no momento certo para que se ganhe a pessoa que errou e jogue o erro dela fora. Meu Pai não quer a morte do pecador – dizia Jesus – mas sim, a eliminação do pecado. A luta pela reforma interior, meus irmãos, é uma das coisas mais dantescas que podemos enfrentar.
Se eu estou de mal com o meu vizinho, eu faço um muro ali, não olho mais para a cara dele; quando ele vier por uma calçada eu troco para outra. Tudo bem. Mudo de lugar. Mas, eu não posso ficar de mal comigo e deixar de falar comigo porque eu durmo comigo, todo dia, na mesma cama e, quando eu olho, no espelho, dou de cara comigo. Não tem um jeito de me abandonar e viver outra coisa. Não! Eu sou eu. Eu tenho que conviver comigo.
Lutar e vencer os outros é a coisa mais fácil, ter uma arma, imponho. Mas, que arma vamos usar para nos impor disciplina, senão a força de vontade? Daí, a reforma íntima ser uma coisa, eminentemente, necessária. Preciso entender (intelecto) que ninguém vai poder me reformar, senão eu. Deus não vai virar com a mão e dizer: A partir daqui todos os seus pecados serão perdoados. Você está livre.
O Evangelho chega a apresentar-nos uma expressão, muito curiosa, quando alguém perdoa um erro que se cometeu: Perdoados, mas não limpos.
Se alguém a quem eu devo chega para mim: - Raul, você não precisa mais me pagar. Ele me perdoa a dívida, mas eu continuo devendo. Vou pegar o recurso e aplicar para outro e dar para outro e colocar isso no serviço do bem – para que eu me quite. Ele me perdoou, Fulano me perdoou, mas eu continuo devedor. Não paguei aquilo que recebi; continuo devedor.
Se tenho uma dívida no banco que vai vencer amanhã, o João vai e paga para mim. O banco já não me processa, mas eu continuo devedor. Então, eu sou perdoado, pelo banco, mas não me livro da dívida. É importante que nós comecemos a pensar nisso. Não adianta eu querer aplauso do mundo; não adianta eu querer que as pessoas tenham uma boa imagem de mim se eu, por dentro, sei que não sou bom.
Por isso, o Reino dos Céus não tem aparências exteriores – afirmava Jesus; o Reino dos Céus está dentro de vós, está dentro de nós. O Reino dos Céus não é um lugar circunscrito na natureza; é um estado d’alma. É óbvio que se, em uma região, da natureza, qualquer – se encontrar um grupo de almas fruindo esse estado d’alma superior – ali, eles instalarão o Reino dos Céus que os acompanhará para onde eles forem. Da mesma maneira, o indivíduo que carrega a tormenta por dentro, carrega seu inferno particular. E, onde se reunirem um grupo de criaturas infernizadas vão plasmar ali o inferno.
Por isso, meus irmãos, nesta noite queria deixar-lhes essas meditações, essas reflexões sobre as Transformações Humanas. A conversão cristã engloba a transformação intelectual porque eu tenho que conhecer a mensagem para que a ela eu me converta; engloba a transformação moral porque eu passarei a viver consoante as Leis Divinas que conheço; a lei moral que conheço. Mas, ela faz algo mais; não fica na exterioridade, ela me preenche de dentro para fora.
Por isso, deixamos nesta oportunidade estes atos singelos, estas meditações simples para que, a partir daí, os senhores desenvolvam esse pensamento, reflitam sobre isso e comecemos a pensar:
-Quanto tempo estamos perdendo no processo de autoeducação? Amanhã, que pode ser logo mais, a morte nos encontrará, a desencarnação nos encontrará. - O que eu fiz comigo? - O que eu realizei? - Que tipo de trabalho eu fiz para que meu rastro fique na Humanidade, como a sementeira de esperanças, para todos aqueles que venham depois de nós?
Pensando nisto, peçamos a Jesus que nos abençoe e que nos guarde em Sua paz. Muito obrigado.
Em 13.3.2013.