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O Espiritismo e o seu aspecto religião


Palestra proferida durante a 1ª Confraternização Espírita do Estado do Rio de Janeiro, em 29 de março de 1986.

Prezadas Senhoras, Prezados Senhores,

Meus abençoados irmãos da causa Espírita, que Deus nos abençoe e nos guarde em Sua Paz!

Como aragem dos Céus Ele chegou à Terra e vestiu de esperança os nossos corações... Esta é a brilhante expressão com que o amorável Espírito Joanna de Ângelis fala de esperança, trazendo-nos a figura de Jesus como sendo essa aragem, esse favônio, que vem de Esferas mais elevadas, de constelações distantes, para penetrar a canícula da vida humana, na condição de refrigério e de poema de paz para todos.

UM POUCO DE HISTÓRIA

Desde aquele dia, que se distancia na noite dos tempos, quando no alto do Sinai Moisés recebia das Potestades do Mundo Espiritual o Decálogo, narram as tradições do Além que Ele, o Senhor Jesus, começara ali mergulhar Seu pensamento-luz nas dimensões terráqueas, para que, quase um milênio e meio depois de Moisés, pudesse chegar a Terra como um aroma de paz e mensagem de amor.

Mas a Sua chegada, desde os primeiros momentos, estaria assinalada pela perseguição dos homens liliputianos, frágeis e presunçosos, em virtude da revolução que Ele ensejou nos costumes antigos, inobstante se houvesse transformado em Caminho, Verdade e Vida para as nossas humanas existências.

Para chegar ao mundo, deveria enfrentar a indiferença dos homens e tudo para auxiliá-los a suportar os tormentos da própria desestruturação. Olhando de frente as necessidades terrenas, deveria chegar na intimidade da noite, encontrando tão só o estábulo singelo, por total abrigo menos áspero, que O pudesse receber.

Desde ali, notamos que o Mestre não encontrava lugar nas pautas das vidas. Assim passariam os tempos... Os Reis Magos, como são conhecidos os três sábios que visitaram o palácio do Tetrarca, lhe dariam a notícia de que estava nascido na região Aquele que o destronaria. Herodes, o Governador das quatro cidades judaicas, preposto de César, deveria tomar-se de fúria e ordenar aos seus soldados que fossem a toda parte dos seus domínios, tomassem as crianças de zero a dois anos de idade, e a todas decapitassem, no pressuposto de que deveriam encontrar naquele meio essa figura audaciosa que viera para tomar-lhe o lugar no concerto da política de então.

Só que Herodes não se dava conta de que, já naquele ensejo, os Espíritos luminares apareceram a José de Galiléia, em comunicado onírico, nas expressões do sonho, ordenando-lhe que fugisse com a criança e a esposa para as terras egípcias, dessa feita poupando o Messias da cruel e insidiosa perseguição por ele imposta.

Mas enquanto passa o tempo, Ele descerá as montanhas e passará por Genesaré, falará de paz, convocará ao amor e à fraternidade os homens; ensejará saúde aos caídos na enfermidade; lecionará dignidade aos que estavam afrontando a ética.

Damos um salto no tempo...

Vemos a crucificação e Seu retorno para viver com os companheiros, naqueles quarenta dias da expressão evangélica, mas logo depois, na tarde radiosa da Galiléia, Ele retornará ao Mundo Invisível, deixando, novamente, a Terra entregue às nossas próprias realizações, ainda que prosseguisse envolvendo-nos no Seu amor.

Passam-se as eras, institui-se a Igreja dos Apóstolos e dos Mártires, que deveria nortear os destinos da fé religiosa, até o século IV, na dinâmica da fé imortalista.

Diversos foram os cristãos que deram sua vida por amor à nobre Causa, que entregaram-se, por amor a Jesus Cristo, que conforme O Evangelho Segundo o Espiritismo, desceram às arenas circenses para morrer, entoando louvores...

A partir do quarto século, já não veremos mais esse estoicismo, porque chegaria ao trono de Roma, na condição de Imperador, o célebre Constantino, o Grande. Desde então Jesus Cristo passaria a ser considerado não mais o Senhor das gentes simples, das criaturas pobres, dos irmãos do caminho, mas será o grandioso deus de Roma. Não mais seria apresentado como Peregrino Celeste, que veio aconchegar corações. Agora seria Aquele ao qual o povo romano desconhecia e, a partir de então, passaria a compor a elite dos deuses que as Sete Colinas reverenciavam, desde que uma decretação imperial assim o impunha.

A determinação, no entanto, não faria com que Ele penetrasse a intimidade dos corações romanos, porque, em verdade, a mínima psicologia nos advertirá que ninguém conseguirá abrir mão dos seus deuses e atavismos seculares, para passar a cultivar na alma a vinculação a uma deidade e a costumes novos, ainda não devidamente assimilados, embora a imposição de César.

A partir da determinação de Constantino, elevando Jesus à categoria de divindade, no Panteon romano, a estrutura da Igreja primitiva começará a periclitar. Era aquele mais um ato de perseguição, porque enquanto o cristão deveria dar a vida, o cristianismo era pujante, as almas cristãs dispostas, arrebatadas pelo Ideal. Mas, depois dos conchavos políticos e administrativos do Império, o movimento cristão começou a diluir-se, a empanar-se no momento em que as autoridades que deveriam nortear as almas, passaram a banquetear-se com os potentados da Terra, olvidando suas respeitáveis finalidades.

Viajando no tempo, chegaremos à época em que o célebre Martin Luter asseverava que estava no tempo de romper-se o arcabouço do fideísmo religioso que a Igreja Romana mantinha sobre as consciências. Ele era um monge agostiniano, rebelava-se diante daquela estrutura que impedia os homens de pensar, naquela dinâmica que deteriorava a capacidade de logicação, fazendo homens superficiais, indivíduos que se comparavam a filas de gado, marchando para o matadouro, sem se aperceberem disso.

Aguilhoada à sua reflexão, viu irromper a dia 31 de outubro de 1517 quando o famoso Lutero afixaria nas pesadas portas da Catedral de Wittenberg as 95 teses que dariam ensejo à Reforma Luterana. Atendidos estavam os objetivos maiores da reencarnação de Martin: exumar da cripta dos altares os ensinos de Jesus, onde estiveram durante tanto tempo, e que seriam espargidos para o povo sedento, dali adiante.

Cabia ao eminente monge restabelecer, na sua autenticidade, o pensamento de Jesus, que, desde muito tempo, vinha condenado ao sepulcro enregelado dos altares.

Martinho Lutero, acolitado por um pugilo de almas nobres, conseguiu verter para o idioma alemão, que recebe grande contribuição de sua parte para organizar-se e estabelecer-se, a oração dominical e o que faltava a ser traduzido da Bíblia, e vê a emoção dos seus irmãos, do seu povo, nas ruas e nos lares, ao lerem no seu próprio idioma, as expressões Daquele que era como ainda é, a Rocha dos tempos...

Em 1509, nascera em Noion, na Suíça, o célebre João Calvino, e, ao tornar-se adulto, travou contato com o movimento luterano através do seu professor de língua grega, Melchior Wolmar, que era humanista com fortes simpatias pelo luteranismo. Implantou a sua doutrina calvinista, que se afirmava sobre as idéias de Santo Agostinho, no que tange à predestinação, à graça e ao pecado original. Distingue-se de Lutero, exatamente porque afirmava a predestinação e a graça irresistível. Repele os sacramentos, que passam a ser simbólicos apenas, menos o batismo e a comunhão, fazendo com que seu pensamento se desenvolva na França, na Inglaterra e na própria Suíça, que lhe era berço, e em diversos outros países europeus.

A mensagem de Jesus começa a ser alvo de intérminas discussões e múltiplas querelas, porque cada qual que discordava de um ponto de fé, editado por alguém, criava outra igreja e, dessa forma, marchamos para encontrar no século XVII, a alma da Europa envolvida em diversas questões de fé cristã, servindo de pomo de discórdias entre tanta gente. Afirmava-se que Jesus deveria ser dito dessa ou daquela forma, pregado desse ou daquele modo e porque ninguém chegasse a uma conclusão conciliatória, criavam-se novas igrejas, novas estruturas ante a desinteligência quanto a uma palavra ou a um qualquer termo destacado ou singelo da Bíblia.

Saltamos o século XVII para observarmos o século XVIII. Ao abrir-se o século, a Inglaterra é sacudida por uma heresia que tomaria conta dos arraiais intelectuais e dos movimentos de fé cristã. O Visconde de Bolingbroke, como era conhecido o celebrado Harry Saint John, uma das maiores personalidades do seu mundo cultural, na sua roda de intelectuais, levantou a idéia de se considerar Jesus como uma figura sem realidade histórica.

Do círculo pequeno, as idéias do Visconde atravessaram a Inglaterra, e nas rodas intelectuais, vaidosas, começariam a espalhar que Jesus não existiu, que era uma personalidade quimérica, afinal de contas, fora-o dito por Bolingbroke, o que se constituía garantia para entrar na moda.

Quando as notícias chegaram a França, o afamado François Marie Arouet, chamado Voltaire, estranharia, porque conhecera Bolingbroke, em Londres, ao tempo em que lá estivera, evadido da França por questões políticas, e lá, então, soubera que o intelectual se fizera defensor dos deístas e que tinha idéias muito liberais em matéria de religião. Assim, Voltaire torna-se perplexo com as novas que explodem em Paris.

Em 1768 desencarnava o eminente professor de línguas orientais, na Universidade de Hamburgo, Hermann Reimarus, e na sua obra, seu amigo e igualmente professor Gotthold Lessing encontrou 1400 páginas manuscritas do pranteado amigo, nas quais escrevera sobre Jesus. Lessing, seis anos depois, após ter aqueles escritos de Reimarus, entendeu que deveria publicar alguns excertos, encantado com o posicionamento do falecido colega e porque outros amigos comuns tentassem dissuadi-lo, persistiu na idéia e vai publicar em uma revista as páginas em que Reimarus questionava que Jesus não pode ser considerado como fundador do Cristianismo, visto com tantos encômios à Sua figura, porque Ele é apenas figura terminal e dominante da mística escatologia dos judeus, ou por outra, Jesus não veio fundar um outro credo, mas veio preparar os indivíduos para a iminente destruição do Planeta e para o Juízo Final.

Na França, no ano de 1791, Constantin de Chassebeuf, o Conde de Volney, escreveu um livro que se tornou famoso porque sendo ele um erudito, destacado nas referências mais notáveis de Paris, uma das mais altas personalidades intelectuais da época, da Academia Francesa, o Conde de Volney apresenta ao público acostumado a sua literatura, um livro: "Ruínas do Império". Nessa obra, ele ressuscita as idéias de Bolingbroke e afirmava, agora nas terras francesas, que Jesus não tivera realidade histórica, que não existira de fato, e era mais um petardo que lançava sobre a figura de Jesus Cristo, numa tentativa de destroçar a fé cristã no âmago dos seres.

Depois que passamos pela obra literária de Volney, chegamos ao ano de 1796. Novamente a Europa se agita nos setores da crença, como se ela devesse promover incômodo denunciador de sua importância e da continuada fuga em que se lançam os indivíduos, dificultando-lhes o seu entendimento e o estabelecimento da paz.

Tornamos à Alemanha. Herder, afamado pensador teológico, afirma nos seus enunciados, que jamais se poderia admitir que o Cristo apresentado por Mateus, Marcos, Lucas fosse o mesmo mostrado por João, o Evangelista.

Herder não se apercebia de que não é necessário grande conhecimento de psicologia para se conhecer que os Evangelhos foram escritos bem depois da morte de Jesus, quando os Evangelistas estavam mais maduros e idosos e considerando-se que os conhecimentos eram comumente transmitidos pela tradição oral, narravam o fato verdadeiro sendo que alguns detalhes poderiam escapar aqui, sendo, porém, retomado por outro, acolá.

Desse modo, se um ou outro episódio narrado pelos quatro escritores evangélicos possa ter ligeiras discordâncias de detalhes, não terá, entretanto, no conteúdo das verdades que apresenta, o que é importante.

Quanto a João, travou ele contato com Jesus ainda na adolescência, pelos seus 16 anos. Quanto o Mestre retorna ao Invisível, João se encontra na faixa dos 19 anos. Sua personalidade moral estava definida, pela convivência que mantivera com Ele, durante quase 3 anos, mas sua formação intelectual ainda assimilaria muitos conhecimentos capazes de influenciar-lhe a vida.

João vai para a Grécia muito moço, leva em sua companhia Maria de Nazareth, a doce mãe do Senhor, para dar-lhe afeto e presença. Acultura-se entre os helênicos. Assimila as idéias gregas, as suas filosofias. Absorve a doutrina do "logos", das "idéias", de grande peso na formação platônica das concepções universais. Ao escrever na idade avançada, sobre o Mestre, impregnado desses conhecimentos, assevera, ao iniciar o seu Evangelho: "No princípio era o Logos (Verbo), o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus", um dos argumentos utilizado pela Igreja, na sua determinação dogmática, para afirmar que Jesus e Deus são a mesma individualidade.

Em 1828, novamente a Alemanha vê levantar-se outro teólogo, Henrique Paulo, para dizer nas 1192 páginas que escreveu sobre o Cristo, que os milagres deveriam ser compreendidos não como fatos sobrenaturais, mas, sim, como notadamente naturais, que à época do Mestre não se conseguia entender e, por isso, era compreensível fossem classificados como coisas sobrenaturais. Era, portanto, o teólogo, coerente na tentativa de uma interpretação racionalista dos milagres.

Entretanto, nos anos de 1835 e 1836, apresenta-se na mesma Alemanha a personalidade de David Strauss1, que escreveu uma "Vida de Jesus", e dizia que seria impraticável aceitar-se os milagres de Jesus, ainda que se os entendesse como naturais, porque, segundo ele, os milagres eram parte da mitologia criada em torno de Jesus, era importante falar-se do Mestre, sem esses conteúdos, que julgava desprovidos de valor.

Importante era, para Strauss, que se falasse da vivência de Jesus sem as referências dos fatos tidos por miraculosos. Enquanto isso, surge a voz de Ferdinand Christian Baur2, dizendo-se contrário às cartas de Paulo, afirmando que todas eram epístolas falsas, com exceção das dirigidas aos gálatas, coríntios e romanos. Era mais uma violência assestada contra a integridade da mensagem cristã, considerando-se que, se a maior parte das cartas é inautêntica, quem garantirá as demais como verdadeiras?

Depois de Christian Baur, no ano de 1840, na Alemanha, um extremo materialista, Bruno Bauer3, que chegou a manter altercações com Karl Marx, com ele se indispondo, escreveu diversos artigos contra a religião e contra o próprio Jesus. Chegou ao ponto de asseverar que Jesus nunca existira, que passou a existir a partir do século lI, quando houve um acordo entre três teologias dominantes na época: as teologias judaica, grega e romana. No século lI, então, ajuntaram-se estas teologias para oferecer ao mundo um mártir que fosse igualmente um herói, e desse modo Ele teria surgido...

Atingimos 1863. A França intelectual ufana-se porque um dos membros da Academia de Letras de Paris, notável pelos seus predicados morais e intelectuais, escreveu um livro sobre Jesus. Apareceu o fabuloso "Vie de Jésus" e seu autor era Ernest Renan.

Renan escreveu a vida de Jesus debaixo de circunstância notável. Expunha seus pensamentos sobre o Mestre, sem negar sua antipatia, quando uma irmã, Henriqueta, que vivia em Biblos, nas regiões da Fenícia, sabendo do que se passava, escreveu-lhe dizendo-lhe que, se desejava escrever sobre Jesus, contra ou a favor, que o fizesse, mas que, antes, lesse os Evangelhos para que pudesse escrever com conhecimento de causa.

Renan, que amava a irmã Henriqueta, enferma, seguiu-lhe as observações. Leu os Evangelhos e chegou à conclusão, que tem a audácia de externar, dizendo que o Evangelho segundo Lucas é o mais belo livro como jamais na humanidade se escrevera igual. A religião francesa chocou-se com o livro, porque a religião na França tinha uma conotação estranhamente absurda. Desenvolvia o culto irrefletido, o religiosismo sem religiosidade, os pieguismos e a hipocrisia, pois a vivência dos representantes do movimento fideísta nada tinha em comum com o que se constituía em sua pregação. Aos pretensos donos da religião a Obra causou espécie, mas para os verdadeiros cristãos, embora Renan retirasse o caráter divino do Messias, o que em nada diminuiu Sua majestade, mostrou Jesus Cristo como o homem mais excelente e mais próximo de Deus, como jamais se vira na Terra.

Considerava Renan que Jesus era tão grandioso e a Sua mensagem tão nobre e eloqüente, que não couberam senão em pouco mais de duas linhas dos escritos de Flávio Josefo, que viveu no século I, filho de uma família de sacerdotes, no seu livro "As Antiguidades Judaicas".

Abre-se agora o século XX...

Na França, o movimento de suspeição contra a personalidade do Cristo atinge o seu clímax, quando o Padre Alfred Loisy4, resolveu fazer uma crítica tão acirrada aos Evangelhos, que a Igreja entende que ele se insurgia contra a própria estrutura religiosa, pois o abade vai ao ponto de admitir a irrealidade do Cristo. A Igreja francesa, sob forte indignação, expulsa de suas fileiras o clérigo e todos aqueles que o acompanhavam na mesma ideação.

Tinha-se a impressão que as Falanges mantenedoras da ignorância se alinhavam para entenebrecer concepções, estabelecer confusão em toda parte...

Na Alemanha, o movimento chegara aos píncaros com a pregação de Arthur Drews, contra a existência histórica de Jesus.

Desolados, deparamos com a escola holandesa de Person, de Naber e de Mathas, negando, de maneira extrema, a realidade de Jesus Cristo.

Na velha Inglaterra de Bolingbroke, defrontamos com os famosos pensadores Smith5 e Robertson6, que visitavam as diversas regiões inglesas para afirmarem que Jesus era uma farsa.

Chegados ao final do século XIX e início do século XX, imaginava-se que depois de 200 anos de perseguição de tantos dos mais letrados, dos mais doutos, das maiores sociedades da Terra, Jesus morrera e com Ele, o Cristianismo...

EINSTEIN FALA SOBRE JESUS

Mas, no ano de 1955, Viereck, um jornalista alemão, procura o grande Albert Einstein na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e ao encontrar o Pai da Relatividade, o mais célebre físico teórico do século XX, pergunta-lhe:

Professor, qual a influência que o Cristianismo terá exercido sobre sua vida?

Einstein, tranqüilo e nobre, afirma para o jornalista: Eu, tendo sido criado sobre a égide da Bíblia e do Talmud, na minha condição de judeu, quero dizer que Jesus tem exercido influência sobre a minha vida. Sinto-me fascinado por Essa figura luminosa.

O jornalista volta a questionar: Mas, professor, o senhor admite a existência histórica de Jesus?

E, Einstein: Inquestionavelmente, ninguém pode ler os Evangelhos, sem experimentar a presença presente de Jesus. Em cada palavra pulsa a Sua personalidade. Jamais qualquer mito estará saturado de semelhante vida.

O jornalista apresentou sua explicação, com a insinuação da falta de autenticidade das palavras do Mestre Jesus, evocando o fato de Ludwing, Lewisohn ter escrito recente livro, no qual mostrava que muitas das palavras e expressões do Cristo eram paráfrases das expressões de outros profetas...

Einstein, sempre tranqüilo, imbuído da certeza dos que não julgam "a priori", confirmando o procedimento de todos os sábios verdadeiros, olhou nos olhos de Viereck, sorriu e atalhou: Ninguém pode negar que Jesus tenha existido, nem a beleza dos Seus ensinos. E, mesmo que alguns desses ensinos tenham sido apresentados antes, a verdade é que ninguém os expressou tão divinamente, como Ele.

JESUS NO CONCEITO DOS ESPÍRITOS

Após os séculos de perseguições, e mesmo durante eles, os Espíritos Egrégios prosseguiam confirmando a Presença do Cristo nas ocorrências no mundo. É quando nossa mente se espraia e divisamos O Livro dos Espíritos, quando na questão 625 Kardec pergunta às Vozes dos Céus e essas passam a responder ao Codificador, a esse Amigo Luz da Humanidade: Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?

E a maior resposta de O Livro dos Espíritos é expressa num dissílabo apenas. Uma palavra: Jesus. É Jesus!

Allan Kardec apõe uma "nota" a esta resposta, falando que para os indivíduos Jesus Cristo representa o tipo da perfeição de ordem moral que a Humanidade pode anelar. Sendo oferecido aos homens por Deus como o mais perfeito modelo, a doutrina que Ele ensinou é a expressão mais pura das Divinas Leis, porque, constituindo o mais puro de que tem passado pela Terra, o Espírito divino O impulsionava...

É, ainda em O Livro dos Espíritos, na questão 627 que o Codificador vai indagar: Uma vez que Jesus ensinou as verdadeiras leis de Deus, qual a utilidade do ensino que os Espíritos dão?Terão que nos ensinar mais alguma coisa? Em resposta ao Codificador, os Imortais disseram que o ensino dos Espíritos tem que ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e para que todos possam avaliar e apreciar com razão. Viemos desmascarar os que se ocultam na hipocrisia, bem como confundir os orgulhosos, abrindo os olhos e os ouvidos a todos. Em síntese, os Espíritos asseveram que é necessário trabalhar-se para que a ninguém seja possível interpretar, ao sabor de suas paixões inferiores, com falsidade, o sentido da lei de Deus, toda de amor e caridade.

O amor e a caridade, objetivos singulares da Mensagem Espírita, os quais nunca foram das cogitações científicas. Jamais a filosofia e a ciência estiveram preocupadas ou ocupadas com o amor e com a caridade...

A MISSÃO

Numa rápida retrospectiva, evocamos a noite de 30 de abril de 1856...

Um pequeno grupo de pessoas se aglomerava para "ouvir", atento, as informações do Invisível, na casa do Sr. Roustan, através da mediunidade da jovem Ruth Celina Japhet. É nesse clima de espiritualidade superior que o professor Rivail recebe a primeira revelação de sua missão: Deixará de haver religião e uma só se fará necessária, mas verdadeira, grande, bela e digna do Criador... Seus primeiros alicerces já foram colocados... Toi, Rivail, ta mission est là. Quanto a ti Rivail, a tua missão é aí.

Assim, engrandecido pela informação dos Espíritos, Kardec emociona-se quando o Espírito Verdade anuncia, mais tarde, que ele era o missionário incumbido daquela Revelação do Além para a Terra.

Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, vai afirmar, na introdução da Obra, exatamente nos "Prolegômenos", assinado pelas diversas Entidades Espirituais, a religiosidade da Doutrina, ao transcrever a orientação dos Guias do Orbe: Ocupa-te com zelo e perseverança, do trabalho que resolveste realizar com o nosso concurso, porque esse trabalho é nosso. Pusemos nele os alicerces de um novo edifício que se eleva e que um dia unirá todos os homens num mesmo sentimento de amor e caridade, o que mais adiante vai corroborado na resposta à questão 627, consoante já o citamos.

Allan Kardec continua... A sua mensagem ganha campo na Europa, fala às almas, vivendo a época dos republicanos de França, debaixo da saga de Napoleão III, o célebre Carlos Luiz Napoleão, filho de Luiz Bonaparte, rei da Holanda, e de Hortência de Beauharnais. Dessa maneira Kardec sabia que, com os acordos entre a Igreja Francesa e a Igreja Romana, seria muito difícil o estabelecimento da Obra.

É que Napoleão III mandara o famoso Nicolas Oudinot a Roma, a fim de restabelecer o governo do Papa, que lhe havia sido tirado por Giuseppe Mazzini, revolucionário italiano, em 1849, o que bem atesta o tipo de vinculação da coroa com o papado.

CONSIDERAÇÕES EXPERIMENTAIS

Numa época de conturbação, social em França, quando a ideologia e o fideísmo dominante avassalava, provocava revoltas, seria impraticável, estultícia mesmo, apresentar a Doutrina Espírita como Religião, o que fez com que Kardec a definisse, conforme encontramos no seu livro O Que é o Espiritismo, de 1859, como: uma ciência que trata da origem, da natureza e do destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corpóreo. Esta definição resume o seu caráter de filosofia religiosa e de ciência experimental, pelo fazer-nos observar que o ramo dos conhecimentos humanos que se ocupa com a origem e a natureza e o destino dos Espíritos há de ser o da filosofia. Como as filosofias materialistas não cogitam de tal questão, teremos que evocar uma filosofia espiritualista, religiosa. Pelo motivo de os fenômenos de interação Espírito-matéria poderem ser examinados, experimentalmente em laboratórios, como comprovam à saciedade os testes e observações operados com médiuns, os mais diversos, ao longo da história do movimento espírita no mundo, podemos compreender o aspecto de ciência experimental de que se vale o Espiritismo.

Ciência, Filosofia, Religião... eis o tripé no qual se firma a Doutrina Espírita, inobstante expressem o contrário tantos que se atribuem sapiência indene de qualquer suspeita, e que admitem que seus raciocínios e lucubrações devam ser universais.

Ainda no tocante à fenomenologia mediúnica, de componentes experimentais, sabemos que a atuação de alguma Entidade desencarnada sobre o sistema mente-cérebro do médium, provoca-lhe alterações de caracteres fisiológico, psicológico e emocional, perfeitamente verificáveis em laboratórios das respectivas áreas. Quando se estabelece o transe, a ação de uma mente, com sua freqüência específica, sobre a mente passiva do médium, fará com que este se sinta uma outra pessoa, com emoções diversas, suaves ou intensas, distintas daquelas do seu estado "normal". Por vezes sensações em nível físico, agradáveis ou desconfortantes, que o surpreendem, revelando uma outra realidade que não é a própria do médium. Ocorrem taquicardias ou bradicardias, ou seja, o aceleramento ou a diminuição da pulsação cardíaca. Ao lado disto, podem dar-se, também, processos de sudorese abundante e de colapso periférico, que fazem com que o médium fique suarento e com baixa temperatura externa. Tudo isto podendo ser verificado experimentalmente.

O eletroencefalograma de um médium em transe, bastante distinto do de um médium em seu estado "normal", assemelha-se ao de um epiléptico, no estágio de pequeno mal (grau 2) ou do grande mal (grau 3), por razões que indicam grande número de casos de epilepsia em que se acha presente a interferência de desencarnados. Isto fez com que muitos médicos materialistas, ou de outras correntes de crenças que não admitem a intervenção dos Espíritos na vida corporal, considerassem os médiuns em geral, como psicopatas, como ainda costuma ocorrer.

CLASSIFICAÇÃO DOS ESPÍRITAS - ESPIRITISMO CRISTÃO

É assim que, enquanto temos em O Livro dos Espíritos a magna Filosofia dos Espíritos, temos em O Livro dos Médiuns, a seqüencialidade dessa Filosofia, com as expressões práticas, experimentais, a ela associadas, de modo a atender a quantos penetram nesse mar das experimentações com o Além.

Em O Livro dos Espíritos, Deus é apresentado pelos Imortais como essa Causa Causadora, em nada antropomórfica, em nada amesquinhada, na qual qualquer cientista poderá basear-se para a sua reflexão sobre o Cosmo, sobre a Vida. Mas, em O Livro dos Médiuns, Kardec nos permite encontrar esse mesmo Deus interligando as facetas espiritual e material, numa formidável interação dos dois aspectos da Vida, em si mesma. Desencarnados e encarnados, sob a ação de sublime Lei, ensinando e aprendendo, para o aproveitamento geral.

Em O Livro dos Médiuns, no seu capítulo III, no item 28, o Codificador aborda a questão dos tipos de espíritas, classificando-os como: experimentadores, imperfeitos, exaltados e verdadeiros. Os espíritas verdadeiros são os únicos aos quais Kardec atribui uma segunda denominação. Chama-os "espíritas cristãos". Logo, depreendemos que, embora os indivíduos se possam alocar nessa ou naquela posição no campo espiritista, envolvendo-se mais nessa ou noutra área de interesses, somente os espíritas sintonizados com a mensagem do Cristo podem ser considerados como "espíritas verdadeiros"...

No item 350, do capítulo XXIX, da referida Obra, ainda o Codificador é por demais claro ao afirmar: Essa é a estrada pela qual temos procurado com esforço fazer com que o Espiritismo enverede. A bandeira que desfraldamos bem alto é a do Espiritismo cristão e humanitário, em torno da qual já temos a ventura de ver, em todas as partes do globo, congregados tantos homens, por compreenderem que aí é que está a âncora de salvação, a salvaguarda da ordem pública, o sinal de uma era nova para a Humanidade.

Convidamos, pois, todas as sociedades espíritas a colaborar nessa grande obra. Que de um extremo a outro do mundo elas se estendam fraternalmente as mãos e eis que terão colhido o mal em inextricáveis malhas.

A partir deste convite de Kardec, estamos chamados a integrar um grupamento de almas dispostas a levar adiante a flama do Espiritismo, que será cristão, ou não será realmente Espiritismo.

SOBRE AS PRÁTICAS ESTRANHAS

Dizem-nos diversos companheiros do nosso Movimento Espírita que precisamos eliminar com o Espiritismo Religião, porque, afinal, o Espiritismo não tem cerimoniais ou sacramentos, batizados, velórios, formaturas, e muitos são os que o fazem. Que o Espiritismo não conta com paramentos ou vestes e preces especiais, que tantos mantêm.

Na verdade, a Doutrina Espírita não compactua com quaisquer desses usos e costumes referidos. Não guarda qualquer apoio ao pieguismo ou ao fanatismo. Não incentiva em suas páginas qualquer prática ritualística, no sentido comum aplicado ao termo. Cremos, assim, que o ponto de honra não estará em retirar do Espiritismo o seu aspecto eminentemente religioso, mas, isto sim, organizar grupos de companheiros, prepará-los, convenientemente, dentro dos fundamentos espiritistas, a fim de que, com eles, saiamos a ensinar corretamente as lições espíritas. Eis o desafio nobre, inadiável, e muito mais difícil do que mutilar ou sugerir a mutilação doutrinária...

Sabemos, sim, que há erros estruturais em muitos grupos do nosso Movimento, refletindo tendências e estados dalma de dirigentes e médiuns, ainda fixados a práticas e mentalidade incompatíveis com a nossa formosa e veneranda Doutrina Espírita. Isto, porém, não se constitui argumento para que se provoque uma fissura de conseqüências destruidoras, nos alicerces do formidável edifício do Espiritismo.

Há usos estranhos, sim. Há verdadeiros altares e quadros de santos católicos e “santos” entronizados pelos próprios companheiros,, os conhecidos “santos” espíritas, mantidos sobre vasos de flores e luzinhas coloridas. Há preces “liturgizadas”, empoladas ou vazias, refletindo pompa ou exibicionismo. Entretanto, na feliz expressão do Espírito Maria Dolores, por meio de Chico Xavier, o engano pede luz onde a verdade mora. Assim, quem sabe, ensine. Quem pode, doe. É certo que talvez não veja seu nome em livros ou jornais exacerbando-lhe o personalismo mas será contado como benfeitor diligente, perante os que libertarão da ignorância, aprendendo corretamente, as lições do saudável Espiritismo, sem deformações.

Precisamos pregar e viver o Espiritismo, em verdade, como no-lo entregou Kardec. As bases são as bases, e aí estão...

Defrontamos outros tipos de explicações, por parte dos que abominam a Religião Espírita, como por exemplo, o fato de muitos indivíduos se tornarem verdadeiros “papa-passes” nas instituições que freqüentam. Não fazem outra coisa senão receberem passes no Centro, e isto é visto como um defeito terrível.

Não resta dúvida que cabe ao Centro Espírita orientar, explicar, mostrar em suas aulas que são os passes, seus objetivos e tudo mais que seja pertinente a esse gênero de fluidoterapia. Mas, entre o indivíduo passar as noites em botequins e bares e bordéis, embriagando-se e atormentando a alma, associando-se a Entidades viciosas, transformando-se em “papa-pinga”, melhor que ele vá todas as noites ao Centro receber passes e vá para casa descansar, feliz...

É obra do tempo a compreensão e engajamento da pessoa na trilha correta, embora esse tempo não prescinda da nossa atuação positiva e equilibrada. Para isto não carecemos de adulterar o que não nos pertence, apenas laborando pela prática correta dos ensinamentos do Consolador.

SOBRE A QUESTÃO RELIGIOSA

De fato, é prodigiosa a Religião Espírita que nos ensina a transformar o próprio conhecimento em luz para a nossa e para a vida de quantos estão necessitados pelo mundo.

Envolvemo-nos, entusiasmados com a Ciência, lucubramos com profundidade com a Filosofia, contudo, jamais qualquer ciência ou filosofia logrou aconchegar um coração dolorido de quem viu seu ente amado, nas mãos enregeladas da Morte... Só a Religião do Consolador.

As grandiosas ciências, na Terra, sem Deus, não impediram Truman de ordenar o bombardeio sobre Hiroshima e Nagazaki, não obstante fosse ele vinculado às crenças reformadas, mas não tendo religiosidade nalma, não aprendera a amar, como orienta o Evangelho de Jesus.

Nenhuma doutrina estabelecida, nenhuma filosofia ou ciência, impediu a enfermeira Irma Grisi, nos campo de concentração hitlerista, amarrar as pernas de mulheres que iam dar à luz seus filhos, a fim de que morressem, desesperadas, nos estertores de um parto impossível. Sem piedade, sem qualquer sensibilidade, sem aquele amor que transformou Francisco de Assis no grande amante de todas as criaturas de Deus.

Allan Kardec, em Obras Póstumas, ao escrever sua Ligeira Resposta aos Detratores do Espiritismo, no 21º parágrafo, 12ª edição febiana, assevera que o Espiritismo é uma doutrina filosófica de efeitos religiosos, como qualquer filosofia espiritualista, em razão do que, forçosamente, vai ter às bases fundamentais de todas as religiões, que são: Deus, a alma, a vida futura. Afirma Kardec, entretanto, no mesmo texto, que o Espiritismo não é uma religião constituída, considerando-se que ele não tem culto, rito, templos, e que, por outro lado, entre os espíritas, ninguém recebeu o título de sacerdote ou de sumo-sacerdote.

No seu proeminente discurso de 1º de novembro de 1868, na Sociedade, em Paris, Kardec confirma o que os Espíritos lhe disseram, conforme vemos em Obras Póstumas: Aproxima-se a hora em que te será necessário apresentar o Espiritismo qual ele é, mostrando a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. No mencionado discurso, 5 meses antes de sua desencarnação, o Codificador se refere à comunhão de pensamentos, afirmando que a religião verdadeira tem suas bases no sentimento de fraternidade entre os homens.

Na seqüência de sua fala, conforme se lê na Revista Espírita, dezembro de 1868, Allan Kardec explica: Perguntam-me se é o Espiritismo uma religião. E eu lhes afirmo que sim, sem dúvida, senhores. Filosoficamente o Espiritismo é uma religião e nós nos ufanamos por isto. E há quem diga que Kardec jamais foi religioso! Prossegue o mestre, Por que, então, dissemos não ser o Espiritismo religião? Porque não existe uma palavra que possa representar duas idéias diferentes. E ele alarga considerações explicando que, não tendo o Espiritismo hierarquias, ordens sacerdotais, não tendo cerimônias litúrgicas, não poderia ser chamado religião, que, no entendimento vulgar, não se apartava da idéia de culto.

O Espiritismo, pelo fato de promover a fraternidade entre os indivíduos, por estender laços de amor unindo as criaturas, torna-se a Religião por excelência, aquela Religião referida pelos Espíritos do Senhor, através da jovem Ruth Celina Japhet, na noite de 30 de abril de 1856, na casa do Sr. Roustan.

De tudo isto, resulta que podemos agora avaliar toda essa organização sombria de negação da Religião Espírita. Ninguém evoca para discutir e negar a face religiosa de outras doutrinas, orientais e ocidentais, que alcançam nossas sociedades, mas o Espiritismo, que é a Doutrina que tem por pilar de toda sua estrutura, a figura mirífica de Jesus...

Levanta-se perseguição similar à dos sacerdotes que envolveram Judas, e, após, lançaram-lhe na face as trinta moedas pagas pela venda do Justo, dizendo ao equivocado e arrependido Discípulo: Agora, isto é contigo, conforme Mateus, capítulo 27, versículo 4, uma vez que já haviam colimado seus intentos...

São agressões dirigidas ao Senhor, como as do soldado que, no palácio de Caifás, esbofeteia-lhe a face, e a quem o Sublime Zagal pergunta, altivo e nobre: Se errei, dá-me testemunho do mal; mas, se não errei, por que me feres?, ressaltando a covardia do ousado militar.

O grande mal que muitos atribuem à Religião Espírita tem sido o de consolar, orientar, iluminar veredas, levantar almas tombadas... São de origem humana os erros nela enraizados...

O ESPIRITISMO EA METAPSÍQUICA

Após o gigantesco labor de Allan Kardec, com a Codificação, travamos contato com os trabalhos de Charles Richet, o pai da Metapsíquica, premiado com o Nobel de Fisiologia de 1913, que realizou diversas e importantes experiências com uma variedade de médiuns, tendo constatado a realidade do fenômeno mediúnico, sem que, entanto, conseguisse fazer a ponte com a mensagem de redenção da fé religiosa, que dá utilidade às descobertas da Ciência, para a alma.

Richet admitiu os Espíritos, a ocorrência dos fenômenos mediúnicos, nomeou a substância que se desprende dos médiuns de "ectoplasma", mas, sem Jesus, sem religião.

Espiritismo sem religião nada mais será que um conjunto de perigosas experiências do psiquismo, sem finalidade maior, o que faria com que ele se transformasse em nova versão de Richet.

Espiritismo sem Jesus, sem religião, não dará importância às questões ético-morais, não se importará com o amor. A Doutrina Espírita sem o Evangelho, estudado, sentido, sofrido e vivido, nas árduas pelejas cotidianas, poderá ser qualquer coisa curiosa, interessante, menos Doutrina Espírita...

REFLEXÕES FINAIS

Depois de mais de dois séculos de perseguições e desafios ao Movimento Cristão, e de todo um esforço, ingente, no sentido de alijar-se do Espiritismo a expressão da Religião do Homem Integral, pensava-se que Jesus morrera e todo o seu Cristianismo. Entretanto, é quando raiam luzes feéricas sobre o mundo, e os Emissários reencarnam-se nos campos da Doutrina Espírita, pregando, servindo nas lides mediúnicas, atuando na assistência social, evangelizando as gerações do amanhã, promovendo o auto-burilamento, tudo em nome Daquele que, menosprezado por alguns, encontra abertos corações sem conto, atentos ao trabalho urgente a operar-se no mundo, que é o de auxiliar os indivíduos no processo da própria redenção.

Um dia, porém, partiremos da Terra, todos. E, ao nos defrontarmos com os Guias do Mundo, que nos trouxeram a Codificação toda inteira, quando formos colhidos por seus olhares firmes e piedosos, e sentirmos na consciência as suas perguntas inarticuladas, por certo muito sofreremos de remorso e anseio de retificação.

Por que colaboraste para o atraso no espalhamento da luz do Espiritismo sobre a Terra? Por que não soubeste silenciar a própria vaidade pessoal, para seres útil ao conjunto da Obra? Por que não refletiste melhor nos objetivos de instrução e de amor da Doutrina? Por que te puseste acobardado ante o muito que poderias ter realizado, orientando e servindo?

Ante o nosso silêncio e a nossa vergonha, apenas lágrimas amargas nos farão companhia, perante o imarcescível amor de Cristo. Cada um tem a liberdade da sementeira, entretanto, também terá a obrigação da colheita...

Retomemos Kardec, ao interrogar os Imortais, no item 932 de O Livro dos Espíritos: Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons? E os Emissários da Luz responderam: Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão.

Ide e pregai, cantou Jesus. Levantai os mortos, socorrei os caídos... Ide e pregai. E, quando esse tempo chegar, estaremos compreendendo melhor a vida excelente de Barsanulfo, de Anália Franco, de Bezerra de Menezes, contra o qual escreveu-se uma obra, atacando-o com a afirmativa de que ele desejava igrejificar a FEB, quando ele apenas trazia à tona os conhecimentos gloriosos de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que conseguiu traduzir, ele mesmo, do francês, para o nosso vernáculo.

Quando esse tempo de vívida pregação chegar, veremos à distância, as idéias aturdidas de Bolingbroke, quanto as de Volney, as de Bruno Bauer tal como as de Christian Baur, que, desde os tempos herodianos, têm representado um conjunto de providências da Treva para apagar o pensamento de Jesus Cristo da face do Planeta.

Há sido derramada sobre o mundo muita luz, para que nós, os espíritas, nos resolvamos assumir uma pugna inglória, de combate à fé religiosa, quando há tanta dor e tanta miséria material e moral pela Terra, e tais problemas pedem mãos devotadas de lídimos trabalhadores. Há tantos desalentados precisando de um amigo, há tanta enfermidade precisando de medicação e nós outros perdendo tempo, gastando páginas e páginas contra a nossa Estrela Maior, que é Jesus. A mais legítima resposta é a do trabalho continuado e nobre. Foi o Senhor que ensinou não contender com o mal.

A maior réplica dada às Sombras é a atuação no bem, laborando no amor, falando da Doutrina Espírita na sua trina expressão: Ciência experimental, Filosofia questionadora dos porquês da Vida e Religião do amor fraterno, enlaçando-nos para Deus. É dessa forma que o verdadeiro espírita deverá atuar, sabendo que como não pode haver Cristianismo sem Religião, a Religião Espírita não pode existir sem Cristo. Quanto aos abusos, vamos combater ensinando, trabalhando mais, para que as Instituições sejam límpidas, claras, doutrinárias. Promovamos estudos, jornadas de aprofundamento dos conhecimentos espíritas, cursos regulares como se encontra no Projeto 1868, em Obras Póstumas, cursos regulares de Espiritismo para que o povo possa pensar.

Não temos o direito de supor que, depois de 129 anos de Espiritismo, depois que diversos sábios e profundos pensadores da Doutrina Espírita leram e estudaram Kardec, viveram e morreram por divulgá-lo, tais como Denis, Delanne, Bozzano, Flammarion, e outros como Deolindo Amorim, Imbassahy, dentre muitos, sejamos nós os descobridores da pólvora, que sejamos aqueles que renovaremos Kardec e os que melhor o compreendem. É a ousadia da ignorância e do mal que não teme coisa alguma, nem a nada respeita, conforme está exarado no mencionado Item 932, de O Livro dos Espíritos.

Por isto, meus irmãos, unamo-nos nessa marcha, sem estarmos contra ninguém, mas a favor da Doutrina Espírita: Ciência, Filosofia e Religião.

1 David Friedrich Strauss: teólogo alemão, discípulo de Hegel. Começou a duvidar do papel histórico dos grandes homens, inclusive de Cristo. Nos seus últimos anos, Strauss tomou-se materialista.

2 Ferdinand Christian Baur: professor de teologia na Universidade de Tubingue, na Alemanha. Convicto hegeliano, tentou aplicar o método dialético hegeliano aos primeiros escritos cristãos.

3 Bruno Bauer: professor de teologia da Universidade de Bona, Alemanha. Tornou-se célebre também por sua análise dos primeiros escritos cristãos. De 1840 a 1842, editou a "Crítica dos Fatos Contidos no Evangelho de São João" e a "Crítica da História Evangélica dos Sinóticos", obras nas que procurou demonstrar que os Evangelhos não são confiáveis como fontes documentais da vida de Jesus; que eles têm importância somente ao retratar o clima em que se deram os acontecimentos das primeiras comunidades cristãs e a situação da época.

4 Alfred Loisy: abade, um dos fundadores do modernismo católico, excomungado em 1908.

5 W. B. Smith: erudito americano que procurava demonstrar que bem antes do aparecimento do Cristianismo, o nome de Jesus era tão somente um epíteto aplicado ao deus hebreu Jeová. Considerava Jesus, nos Evangelhos, pura alegoria.

6 John Robertson: um dos fundadores da Escola Mitológica.

Fonte: Jornal Mundo Espírita -  Novembro/1987.