Uma região muito importante da Europa Oriental sempre esteve presente em minha mente, desde os tempos de menino – a Rússia.
Foram muitos sonhos deveras interessantes e reveladores, desdobramentos espirituais conscientes de relevância e uma grandíssima vontade de visitar aquele país.
Um longuíssimo tempo se passou. Os meus caminhos se cruzaram com os de tantos corações amigos e queridos, e essas reminiscências foram evocadas em muitas conversas acerca dos possíveis fenômenos de reencarnações nossas naquelas regiões.
Descobri que o meu querido e grande amigo Divaldo Franco detinha pela Rússia, particularmente por São Petersburgo, uma afeição que também lhe inspirava o desejo de conhecê-la.
No momento em que as evocações russas e as referências aos nossos vínculos afetivos com aquelas terras chegaram ao conhecimento dos velhos e estimados corações da família Beira, de São Paulo, descobrimos que eram comuns os anseios de desvelar aquela parte do mundo que só conhecíamos pelos textos ocidentais, em especial nas referências nada elogiosas durante os anos da Guerra Fria.
Foi natural a explosão de alegria em nós todos, quando apareceu, então, a chance de visitarmos juntos a Rússia, em especial São Petersburgo e Moscou. A nossa alegria se converteu em forte emoção quando fomos obsequiados pelos Beiras, Divaldo e eu, com a viagem que nos remeteria ao passado distante e nos facultaria planos de trabalho espirituais para o presente.
Dessa maneira, a viagem à Rússia foi gestada em nossas mentes e em nossos sentimentos por quase um ano, até que pudemos engendrar uma viagem de caráter cultural e emocional, materializando velhos sonhos e abrindo espaços psíquicos para a ação espírita em próximo futuro, uma vez que não obtivemos nenhuma referência a qualquer grupo de confrades, por mais simples, que se reunisse numa das duas cidades por nós visitadas.
* * *
São Petersburgo teve começo em maio de 1703, sobre a pequena Ilha de Lebres, próxima ao Rio Neva, por ordem do Czar Pedro I, ou Pedro, o Grande, quando foi fundada a fortaleza chamada Cidade de São Pedro.
Banhada pelo Mar Báltico, a fortaleza tinha por missão defender as terras que margeavam o Rio Neva, conquistadas da Suécia, no governo de Carlos XII, pela Rússia, durante a Guerra do Norte.
A cidade é encantadora. Fomos acolhidos por uma aura muito boa e nos sentimos em um lugar que a todos nos pareceu muito familiar e hospitaleiro. São Petersburgo, que já foi a capital do Império Russo, tem cerca de 200 palácios, pois os czares tinham vários palácios e palacetes, além do hábito de presentear filhos e netos com outros tantos. Construiam arcos e palácios como monumentos evocativos das vitórias obtidas nas guerras das quais participaram. Para isso, além dos arquitetos e artistas russos, contratavam diversos profissionais da arquitetura e das artes variadas de diversos outros países, a fim de imprimirem nas construções o selo do bom gosto e do poderio russos daquela época.
Quando a Imperatriz Catarina II comprou 225 quadros de pintores da Europa Ocidental, nasce o museu Ermitágio, em 1764. Hoje em dia, são 3 milhões de obras expostas em 400 salas. Para percorrê-las totalmente teremos que andar 22 quilômetros. Curioso é que se alguém se detiver diante de cada obra por um minuto, passando oito horas por dia no museu, para ver com atenção toda a coleção demorará cerca de 15 anos.
Em São Petersburgo, além do museu Ermitágio, nos encantamos com o Palácio Grande de Peterhof, os palácios de Catarina I e de Catarina II, na cidade de Pushkin. Outros verdadeiros monumentos à arte são a catedral de Santo Isaak, a catedral marítima de São Nicolás, o Teatro Mariinski (Kirovski), o Templo da Ressurreição do Cristo, a Coluna de Alexandria e o colossal edifício do Estado Maior Geral.
* * *
A nossa chegada a Moscou (que quer dizer rio grande) foi outra significativa surpresa. A beleza da cidade, os verdejantes e bem cuidados jardins e praças, a imponente Universidade, o Kremlin, a Praça Vermelha, o Teatro Bolshoi, os deslumbrantes museus e o histórico e arrojado metrô (que desce 85 m) e as incontáveis igrejas ortodoxas, com suas torres metálicas, ora douradas, ora prateadas, belas sempre.
Tudo na cidade forma a ambiência de um lugar de gente alegre e espirituosa, que lembra muito o modo de ser hospitaleiro do povo brasileiro, gente muito afeita à espiritualidade, que gosta da leitura, da cultura e que ama o Brasil, por tudo o que depreendemos dos diálogos que mantivemos com russos e pelo que vimos estampado em outdoors pela cidade que se abre aos poucos aos visitantes, após os tempos mais difíceis da sua recente história política.
Tanto em São Petersburgo quanto em Moscou, a nossa pequena caravana, formada por 11 pessoas, esteve unida em oração, visto que realizamos nossas reuniões nos aposentos dos hotéis, quando fizemos estudos frutuosos de vários textos da Codificação Espírita, no anseio de abrir os espaços espirituais da Rússia ao psiquismo do Espiritismo.
Tivemos oportunidade, Divaldo e eu, de manter a nossa atividade psicográfica, aproveitando a longa, cultural e preciosa viagem para mantermos as pontes psíquicas com os Benfeitores que, da Vida Maior, abençoaram a nossa viagem pelo Leste Europeu, onde pudemos deixar as nossas fraternais e agradecidas vibrações a esse povo irmão, augurando-lhe os maiores progressos em todos os sentidos, na sua saga de crescer para atender aos planos da Divindade na Terra.
De nossa parte, somos profundamente agradecidos ao nosso Criador e ao Mestre Jesus Cristo por ensejo de rara beleza e sensibilidade em que se converteu a nossa viagem à Rússia, tornando realidade um velho anelo, enquanto elevamos as nossas orações à família Beira que, capitaneada pela matriarca, senhora Ana Beira, prodigalizou a mim e ao abençoado Divaldo esse inabordável presente.
Raul Teixeira.
Fonte: Presença Espírita, de setembro/outubro de 2010.
Em 13.12.2010.