ENTREVISTA COM O ORADOR E MÉDIUM ESPÍRITA RAUL TEIXEIRA
1.A Instituição onde você milita, em Niterói, chama-se Sociedade Espírita Fraternidade. A seu ver, como está esse esforço pela fraternidade entre os grupos e entre os confrades, em geral?
Tenho acompanhado o empenho, a dedicação, com que grandes grupos de confrades, com suas Instituições e em seus campos individuais, estão trabalhando para que a fraternidade deixe de ser uma virtude tão só mencionada, mas, igualmente, vivenciada.
Tenho percebido os esforços daqui e dali nesse sentido, sem que nos esqueçamos que as lides junto aos corações humanos demandam tempo e paciência, a fim de que vejamos os frutos opimos devidamente amadurecidos para saciar a fome moral desses tempos difíceis. Creio, contudo, que é uma questão de tempo.
No caso da nossa Instituição, em particular, desde a sua fundação, em 1980, os nossos Benfeitores Desencarnados sugeriram-nos o nome, justificando que era importante vibrássemos em torno da virtude a qual buscávamos, de modo a mantermos a sintonia na abençoada peleja por sua conquista. Com o objetivo de expandirmos mais a nossa proposta doutrinária, zelando pela fraternidade decorrente do conhecimento da nossa Doutrina, criamos a Editora Fráter Livros Espíritas, que muitas alegrias nos tem dado nessa área, não obstante os seus labores iniciais.
2.A Editora Fráter tem publicado obras de excelente conteúdo, numa linguagem acessível, enriquecendo a literatura mediúnica. Não estão previstas obras do próprio Raul Teixeira?
Até agora não. Claro está que o nosso primeiro lançamento não foi uma obra tipicamente mediúnica, embora não tenha faltado em seu conteúdo o fio inspirativo. Desse modo, o DIRETRIZES DE SEGURANÇA, com participação do nosso Divaldo Franco, aparece como um trabalho a quatro mãos, sendo essas mãos de encarnados. Para frente, possivelmente, de acordo com os objetivos do seu corpo editorial e com os planos dos nossos Mentores Espirituais advenham outros trabalhos no campo das entrevistas que nos são feitas no nosso Movimento.
3.Quantos e quais são os títulos que a Editora Fráter tem publicados até agora?
Até o momento, a nossa Editora Fráter tem cinco títulos, no período de um ano e meio de existência, a saber, por ordem de publicação:
a)Diretrizes de Segurança, perguntas e respostas sobre diversos temas da Mediunidade, respondidas por Divaldo Franco e por mim;
b)Cântico da Juventude, mensagens do Espírito Ivan de Albuquerque, que viveu em São Paulo, em plena atividade espírita, embora muito muito jovem, tendo atuado ao lado de Cairbar Schutel, Benedita Fernandes e outros baluartes do Movimento, havendo desencarnado em 1946. Nesse livro o Ivan se dirige, basicamente, aos jovens, enaltecendo o valor da Doutrina e abordando, com muita felicidade, diversos temas que preocupam os moços e aqueles empenhados em sua orientação:
c)Vereda Familiar, com variados estudos sobre as diversas dificuldades e dúvidas vividas pelo grupo doméstico, também com muita propriedade, desenvolvidos pelo Espírito D. Thereza de Brito, paulista, desencarnada em Araras, militante na seara espírita de lá;
d)Correnteza de Luz, onde o Espírito Camilo, nosso Mentor Espiritual, homenageia O Livro dos Médiuns, estudando vários dos seus ensinamentos, de interesse dos que lidam com as questões mediúnicas;
e) Vozes do Infinito, quando se apresentam vários Benfeitores do Invisível, com seus temas e estilos, enfocando múltiplos assuntos, em prosa e verso, convidando-nos à vivência da veneranda Causa Espírita.
4.Sabe-se que a SEF está empenhada em um trabalho de alcance social, em uma localidade chamada Várzea das Moças, zona rural de Niterói. Pode-se saber algo mais sobre esse Projeto?
Claro que sim. Durante quase oito anos, a nossa sociedade esteve envolvida com um trabalho assistencial na antiga Favela do Gás, hoje conhecida como Aterrado de São Lourenço, em nossa cidade, onde atuávamos atendendo as crianças e seus familiares, por meio de variadas atividades, desde o atendimento educacional, com reforços escolares, para os pequenos e mocinhos que estudavam, até o atendimento médico e ajuda com distribuição de mantimentos. Foi um abençoado período de tarefas que tivemos que interromper, quando o local foi urbanizado pelas autoridades da época, impedindo-nos de obter um espaço, por mínimo que fosse, para continuarmos a atender e cuidar daqueles amigos em variados estados de necessidade.
Começamos a procurar um outro campo para continuar os nossos labores sociais, à luz da Doutrina Espírita, com o fito de nos exercitarmos na fraternidade legítima, no amor ao próximo, reeducando-nos a nós mesmos pela chance de compartilhar as dificuldades dos irmãos desafortunados, em vários níveis.
A nossa Instituição, então, tendo encontrado nessa localidade de Várzea das Moças, Zona Rural da nossa Cidade, um campo propício para o desempenho das nossas tarefas assistenciais, considerando as instruções dos nossos Benfeitores do Além, quanto à área a atender, adquirimos com muita luta, uma área de terreno de cincoenta mil metros quadrados, a fim de que ali, com a bênção do tempo, instalemos os labores do nosso Departamento Assistencial, que é o Remanso Fraterno. A proposta básica que o nosso bondoso Camilo nos aponta, como sempre o fez, é a do trabalho com a criança, sem nos olvidarmos dos seus familiares, pois diz ele que será improcedente desejarmos atender os pequenos, sem darmos condições de que sejam bem atendidos igualmente no seu lar, quando teríamos jogado fora todos os nossos melhores esforços e realizações. Não teremos, assim, internatos, mas, sim., setores nos quais os pequenos estarão conosco durante o dia todo, com a orientação educacional, escolar, com os atendimentos médico, dentário, psicológico, social, junto è educação esportiva, profissionalizante, etc.
Enquanto esses pequenos estarão sendo atendidos com esses serviços, teremos uma agenda de atendimento aos familiares, como condição precípua para a manutenção dos filhos em nossos serviços, com os acompanhamentos dos profissionais dessas diversas áreas referidas.
Acima de tudo isso, a presença constante do pensamento espírita, a nortear todas as realizações do Remanso Fraterno, sem qualquer dúvida.
As crianças do bairro, e seus familiares, já vêm sendo atendidas na área, dentro dos limites impostos pelas condições da pequena floresta que cobre todo o terreno, onde nos reunimos com elas nos finais de semana e com os pais, particularmente, nas dependências da Escola Pública do mesmo local, que nos concede essa possibilidade, por meio da sua atenciosa Diretora.
Contamos com as sublimes bênçãos do Alto para levarmos adiante semelhante projeto.
5.De suas constantes viagens de divulgação doutrinária, que avaliação você faz do Movimento Espírita dentro e fora do país?
A avaliação que faço é a de que ninguém mais poderá deter o fluxo espirítico em toda parte.
Mesmo considerando as imensas dificuldades de levar o Espiritismo a outros corações, sejam do nosso Brasil, onde há tantas regiões de extrema carência doutrinária, não muito distantes de nós, sejam de outros países, a realidade é que, onde é apresentada, a mensagem espírita deixa marcas profundas em vários corações que, gradativamente, vão se comprometendo com as suas propostas transformadoras e luminosas. Fora do nosso Brasil, essa experiência para mim foi e segue sendo comovente. A sensação é a de quem desbrava os territórios virgens das almas, ora sáfaros, ora úberes, ora ubérrimos, para utilizar-me de uma expressão do nosso Camilo.
Retorno à minha cidade, sempre com euforia no coração, verificando a presença do Amor de Deus em toda parte, onde, de um ou de outro modo, existe a marca dos Espíritos, cantando as verdades que ninguém mais pode deter.
O nosso Movimento Espírita tem crescido, tanto no Brasil quanto em vários países, encontrando nos labores devotados de Divaldo Franco e de outros tarefeiros, expressiva cooperação, nesses tempos de necessidades agigantadas dos corações humanos, em todo lugar. Importante será que todos nós nos apliquemos a acatar os princípios excelentes do Espiritismo, dando autenticidade ao seu formidável Movimento, alcançando, passo a passo, a nossa sonhada libertação.
Fonte: Revista Internacional de Espiritismo, março de 1992.