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Entrevista em Quartera – Portugal


Pergunta - Há necessidade de fazer passes sobre os centros de força ou basta fazê-lo sobre o coronário, aplicando as mãos sobre a cabeça da pessoa?

Raul Teixeira - Há sempre validade nos passes sobre os centros de força embora não haja necessidade de se impor as mãos sobre esses centros de força. Uma vez que nós espalmamos as mãos sobre o centro coronário (sobre o alto da cabeça das pessoas) isso funciona como uma estação de água, um vaso comunicante, porque as energias absorvidas por esse centro irão alcançar os variados centros onde haja necessidade de elas realizarem o seu mister. Não há nenhum caso em que seja necessário uma coisa ou outra: o aplicar passes diretamente sobre o centro de força considerado ou sobre simplesmente o alto da cabeça. Cabe ao bom senso das pessoas; se elas sentem-se mais confiantes estendendo as mãos sobre o centro considerado, que elas o façam, não haverá nenhum problema. No entanto, não há nenhuma necessidade de que esta prática esteja em vigor.

P. - O doutrinador deve fazer passes ao médium durante a manifestação de uma entidade desequilibrada? Por quê?

R. T. - Naturalmente que o doutrinador deve fazer passes no médium durante as manifestações de entidades sofredoras, de obsessoras, sempre que isso se mostre necessário. Quando a comunicação com a entidade torna-se difícil, quando o médium apresenta algum sofrimento durante alguma comunicação ou antes de propriamente dá-la, ou depois da entidade se desprender naturalmente caberá ao bom senso do doutrinador ou do aplicador de passes observar e poder utilizar os recursos da fluidoterapia para ajudar tanto ao desencarnado como ao encarnado. A questão dos passes dispersivos que são aplicados sobre os médiuns ao cabo das manifestações mais difíceis são eficazes. O mundo espiritual, naturalmente, poderia realizar esse trabalho. No entanto, quem necessita de crescimento somos nós e eles dão¬-nos essa possibilidade de trabalharmos, para angariarmos os méritos, as virtudes necessárias. A partir daí nós sentiremos a importância do nosso esforço de aplicadores de passes. Todo esse trabalho que realizamos não significa que o mundo espiritual, os nossos benfeitores, não o possam realizar mas dão-nos ensejo de retirar a melhor aprendizagem, o melhor proveito de tudo isto.

P. - O médium, numa sessão de desobsessão por exemplo, deve sentar-se sempre no mesmo lugar?

R. T. - Numa sessão de desobsessão não há nenhuma necessidade do médium sentar-se sempre no mesmo lugar. Geralmente isso acontece, isto é, os médiuns ocupam sempre o mesmo lugar, por questão de comodidade, porque se ajustaram mais àqueles lugares e ficam mais facilmente acomodados ali. Mas se num dia ou noutro houver necessidade de o trocar nada será negativo para a reunião, porque isso não é fundamental.

P. - E o doutrinador? Deve sentar-se sempre no mesmo lugar e com o mesmo médium?

R.T. - Não há nenhuma necessidade de que o doutrinador, por sua vez, também se sente sempre no mesmo lugar. Deve sentar-se num lugar onde tenha uma visão geral da mesa, dos companheiros que estão a trabalhar, para facilitar-lhe a atuação. Principalmente quando eles não tem auxiliares e ele mesmo é o dirigente da reunião e que doutrina as entidades. Os doutrinadores não precisam trabalhar sempre com os mesmos médiuns. Quando existe mais que um doutrinador é mesmo recomendável que se troquem.

P. - Que pensar dos médiuns e/ou doutrinadores que não gostam de trabalhar com este ou aquele?

R.T. - Os médiuns e doutrinadores que não gostam de trabalhar uns com os outros já estão demonstrando que não estão aptos para o trabalho da doutrinação de espíritos, uma vez que não se doutrinaram a si mesmos. Todos esses sentimentos negativos, sentimentos de falta de afinidade, falta de encaixe vibratório são altamente prejudiciais ao desenvolvimento da reunião mediúnica. No Livro dos Médiuns, Allan Kardec diz-nos que a reunião é um ser coletivo; todos aqueles que dela fazem parte são responsáveis pela influência que sobre ela recai. Será bom que todos os médiuns e doutrinadores estejam afinados entre si e nas mesmas reuniões das quais participam.

P. Quanto tempo deve durar uma reunião de desobsessão?

R.T. - A reunião mediúnica deve durar cerca de hora e meia, incluindo todos os elementos que dela fazem parte: as leituras, as orações e o tempo da comunicação dos espíritos. Não deverá, por isso, ultrapassar, em casos bastante especiais, às duas horas de realização. Duas horas de trabalho mediúnico é bastante tempo para que se faça um trabalho sem excessivo desgaste dos médiuns e sem perder as qualidades da reunião. Admitimos, com os nossos benfeitores, que entre 1h30 e 2 horas é um tempo bastante razoável para que se realize a tarefa de desobsessão.

P. – Podem os membros duma reunião mediúnica mudar de equipe de desobsessão ora hoje, ora amanhã?

R.T. – Os médiuns que freqüentam uma reunião mediúnica em certo dia da semana estão sob uma certa estrutura psíquica, do grupo ao qual se acham afinados. Se ele participa de várias reuniões de mediunidade, certamente terá poucas possibilidades de ser útil em todas elas, porque ele terá de encaixar vibratoriamente em cada uma dessas reuniões, no caso de serem reuniões com equipes diferentes. Se forem reuniões com o mesmo grupo, nada impede que ele participe num dia ou noutro; é o mesmo grupo, a mesma equipe que está em ação. Mas se são equipes diferentes e ele vai trocando de equipe certamente não terá a mesma produtividade. E não há nenhuma necessidade disto.

P. – Que fazer com os membros de uma equipe de desobsessão que ora aparecem ora não aparecem?

R.T. – Os membros da reunião mediúnica, principalmente da desobsessão, que aparecem num dia e desaparecem depois já indicam que eles não foram bem selecionados para participarem desse mister, porque não se pode imaginar que um trabalho dessa índole tenha bom proveito com elementos que não se responsabilizam por estar ali com a freqüência que se exige, comumente uma vez por semana. Se um compromisso de uma vez por semana não permite a este ou aquele indivíduo estar ali sempre presente é sinal que ele não deverá fazer parte dessa atividade. Há muitas outras coisas que se podem fazer no centro espírita fora das reuniões mediúnicas. A reunião mediúnica exige basicamente disciplina, o cumprimento dos deveres, dos horários, etc.

P. – E aqueles membros que só aparecem quando não estão bem? Devem freqüentar a reunião mediúnica?

R.T. – Os médiuns que só aparecem quando não estão bem é mais um motivo para não fazerem parte da mesa, dos trabalhos de mediunidade. Que os dirigentes responsáveis conversem com eles para que eles percebam que não estão a agir de acordo com as recomendações da Doutrina Espírita. Pensando assim, não se lhes deve permitir o acesso a essas reuniões quando eles fizerem dessas mesmas reuniões, ponto de encontro, quando têm necessidade, ou uma fonte de água para quando tenham sede, não atuando como um verdadeiro enfermeiro ao serviço do Cristo, com a disposição que o trabalho exige.

P. – Por vezes existe a “febre” das obras assistenciais, entre os portugueses. Espiritismo é isso, ou é educar, libertar consciências, auxiliando-as é claro?

R.T. – A chamada febre de construir ou criar as obras de assistência, materialmente falando, não caracteriza propriamente uma postura espírita, mas o interesse de muitas pessoas. O trabalho espírita por excelência é aquele da reconstituição das almas, de levantar os indivíduos caídos nas estradas morais do mundo. Mas muitas vezes esses indivíduos caídos existem entre aqueles que sofrem necessidades variadas e de diverso porte, a nível material... Aqui, em Portugal, quando não existam essas necessidades, tipicamente materiais, todos os esforços deverão voltar-se para as necessidades morais, para os problemas de ordem ética... Quando um centro espírita não dispõe de uma obra material, um lar de crianças, de idosos, uma creche, um hospital, isso não diminui o seu mérito diante da obra da educação e de esclarecimento das almas que esteja a realizar. Até porque o movimento espírita deve expandir-se calcando sempre nessa necessidade que a doutrina tem de chegar aos corações, de fazer com que as pessoas libertem-se da ignorância... Não perderemos de vista, no entanto, a importância do socorro material àquelas pessoas que estejam nessa faixa de necessidade... mas com certeza de que não cabe ao trabalhador espírita, à Instituição Espírita manter um quadro de criaturas miseráveis improdutivas em nome do seu esforço de caridade. O trabalho assistencial espírita visa promover a criatura. O objetivo do Espiritismo é fazer o homem crescer, fazer o homem levantar-se, alcançando os objetivos da sua reencarnação.

P. – Acha plausível dirigentes espíritas que não se dêem bem?

R.T. – Lamentavelmente encontramos dirigentes, no Movimento Espírita, que não se dão bem, que não se ajustam, que não se afinam. É lamentável, mas temos que convir que isto existe porque vivemos no mundo. Triste é constatar-se que tais dirigentes, sejam eles quais forem, não estão a dar-se conta que desmentem com as atitudes aquilo que pregam com as palavras. Sendo a Doutrina Espírita uma doutrina de bom senso, de razão, uma doutrina que prega o amor acima de todas as coisas, como ensinou Jesus, não se justifica que esses elementos não tivessem coragem de lavar as suas diferenças nas águas da fraternidade, de dialogar, de chegarem a uma conclusão, mas isto, conforme nos diz “O livro dos espíritos”, demonstra a predominância do personalismo, do egoísmo, do homem velho sobre as estruturas frágeis do homem novo sobre a Terra. Lamentamos, mas ainda encontraremos os indivíduos que acham muito bonito falarem de Jesus mas que ainda não tiveram a coragem de saírem de si mesmos para viverem como o Mestre recomendou.

Entrevista concedida em 30.10.1993.
Revista Fraternidade/Portugal/ fevereiro/1994.
Jornal Mundo Espírita/ março/1994.